sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

Luz

...e haverá um dia em que todos os seres serão luz...
Boas Festas!

imagem: find 3d xp

domingo, 29 de novembro de 2009

Uma vez, um verão

Nem pergunte o verão, pois não saberia responder. Só sei que faz tempo, muito tempo. Deveria ter uns 14 anos e, com o Rogério, resolvemos ir juntos numa excursão para Bertioga. Não conhecíamos ninguém, exceto Dona Iracema da igreja do padre Zé, que fizera o convite e, diante do preço bom e das perspectivas, resolvemos nos divertir. Para adolescentes tudo é aventura. E algumas aventuras costumam ser inesquecíveis.
As pessoas foram chegando pouco antes das 5 horas, o horário combinado. Deveriam ser uns vinte e havia gente de todo tipo e idade. Quando o ônibus chegou, um casalzinho subiu depressinha e ocuparam duas poltronas estratégicas lá do fundão, onde desapareceram imediatamente entre elas. Umas quatro senhoras de uns 70 anos acomodaram-se nos bancos da frente e, eu e Rogério esperamos sentarem-se as irmãs – Silvana, a loira e Silmara, a ruiva – filhas lindas de um juiz de direito, que todos os dias as levava ao colégio num opala preto e imponente do Tribunal de Justiça. Sentamos nos bancos atrás dos delas, na esperança de uma chance, nem que isso custasse uma condenação de 10 anos por assédio. Aos 14 ou 15 anos, nunca se sabe, mas valiam o risco.
Nisso, entram quatro grandões já oferecendo a todos um golinho da batida de vinho com abacaxi (eram 4 garrafões, dava pra todos). Mais uns casais de pais de algumas crianças com as próprias; umas cinco, acompanhadas de uma bola de plástico enorme. Naquela época essas bolas enormes eram um sucesso na praia. Não esqueceram as petecas, nem as raquetes de frescobol, claro.
Uma trintona encalhada, já famosa no bairro, com uma bíblia para distrair-se durante a viagem, sentou-se atrás de nós, ao lado de um crioulo com uns dois metros de altura e sem os dentes da frente, porém, com um sorriso muito fácil. A distância entre um canino e outro, enormes, parecia uma ponte apenas com as extremidades; o vão livre lembrava um “canyon”.
A princípio mostrou-se assustada, mas com o tempo, e umas goladinhas da batida, ela parecia até estar disposta a trocar umas idéias com ele.
Por fim, um grupinho de moços e moças munidos de amor, violão, pandeiro e reco-reco de bambu. Alegria garantida ou sua viagem de volta!
- Ebaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa
O ônibus fechava suas portas e começava ali nossa ida à praia. Com direito a tudo.
Não passou muito tempo, começava aquela música que nos acompanharia a viagem toda:
- Num posso ficar nem mais um minuto com você... sinto muito amoooor, mas num pode seeer... moro em Jaçanã... se eu perder esse trem que sai agora, às onze horas... só amanhã de manhã.
Enquanto isso, a bola enorme ia e voltava dentro do bus; o garrafão seguia um trajeto parecido; os namorados do fundão soltavam uns suspiros e uis; as senhoras falavam da vida alheia; a trintona se engraçava com o negão e o Rogério tentava algum assunto com as filhas do juiz. Em plena descida da serra mais da metade das cabeças já giravam mais que a bola.
- ...e além disso, mulher, tem outras coisa....minha mãe num dorme enquanto eu num chegar...
Uma senhora comentava, entre amendoins, que tinha medo de atravessar na “barsa” e, ouvia a outra respondendo:
- Falar nisso, comprei uma dessas encicropédia pras criança. Diz que num tem melhor que a balsa.
Até a chegada na praia.
-Ebaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa
Quatro crianças, então, entaladas na porta junto com a bolona. Quase dez minutos para conseguir descer alguém, entre sacolas com frangos e copinhos de batida de vinho com abacaxi, agora já bem mais quentinha. E o casalzinho ainda lá atrás, esperando talvez alguma coisa se acertar...
De repente, o ritual da chegada: se esticar todo e abrir os braços para o mar e o céu:
- ETA MARZÃO BESTA!
Como diria o Ziraldo.
Novo entalamento. A maioria lembrou que, na praia, bom mesmo é tirar a roupa de cima e deixar surgirem as sungas, calções, biquínis e maiôs Catalina de rendinha. Praia é pra ser aproveitada o mais rápido possível. Tiradas as roupas, todos foram curtir sua areia, inclusive o casalzinho com um ar meio cansado.
Entre os moços e moças, mãozinhas já se juntavam para espantar o medo das ondas. Após algum tempo, as velhinhas olhavam espantadas os pares bem grudadinhos (os homens apertavam bem suas parceiras para espantar o medo) e não demorou muito para uma mais desbocada perguntar:
- Essa coisa que veio do mar e grudou no meu maiô deve ser alga. Ou não? Que porra é essa?
E a outra rindo:
- Acertou na mosca, querida! Pois é!
Silvana comentava com Silmara:
- Precisava ter vindo com biquíni branco? Está tudo transparente. Você num tem vergonha?
- Vergonha eu tenho. O que num tenho é outro biquíni. Mas, ainda assim é mais bonito que biquíni de oncinha.
- Melhor de oncinha, que de tarântula!
E os garrafões de batida se bronzeando junto às toalhas, entre comentários de que, com a maresia, bebida alcoólica nem se atreve a subir. Os casais se “protegendo” juntinhos das ondas. O motorista do ônibus de pé na calçada - de calça azul marinho, camisa branca, gravata da cor da calça e cara de quem toma conta de tudo. Dona Iracema fazendo anotações e contas; de maiô e papel molhado. Meu amigo e eu cuidando dos bichinhos do zoológico, sem tirar os olhos. As crianças com a bola e as velhinhas arfando com o emocionante jogo de peteca. Os homens no frescobol e batida e o casalzinho, pra variar, lá no fundão do mar - bem longe. Ele parecendo que tinha se preparado para camping. Sua barraca ficou armada o tempo todo.
Hora do almoço. Chegam todos para o desejado almoço. A trintona com o crioulo, abraçadinhos agora. Em certo momento abriram o isopor e surgem dois frangos assados; foi quando ela percebeu que aquela falta de dentes na boca de seu parceiro tinha uma grande utilidade:
Numa fração de segundos ele enfiava uma coxa de frango inteira na boca e só puxava o ossinho do meio – as presas faziam o resto. O osso saia limpinho e era só mastigar o que os caninos detiveram. Ela olhava como quem admirava a eficiência e pensava nos frangos que poderiam dividir juntos até que a morte os separasse, na tristeza e na alegria
E tome batidinha de vinho com abacaxi, que agora lembrava vinho quente de quermesse. Talvez por isso, as velhinhas mandaram ver. Certo momento um rapaz oferece:
- Dou cem mil cruzeiros para quem achar meu relógio! Fui ver se era à prova d’água mesmo e acho que o perdi mais ou menos na direção daquele navio, numa onda alta... Quem sabe mergulhar?
Ao que alguém respondeu:
- Vou tentar. Me dá 150 anos para encontrar?
Tarde passando, alegria cada vez maior e a hora voltar. Todos cabisbaixos, chateados por um domingo tão cheio de emoções, ter sido tão rápido, tão fugaz. Dona Iracema tentando entender como ninguém, durante todo o dia, havia sequer procurado um banheiro. Não teve notícia de um único xixi.
Dois garrafões de água serviram para tirar o sal de todo mundo. Os maiôs, biquínis, etc, já deveriam ter secado – portanto - o melhor negócio era vestir a roupa por cima mesmo. Agora, Rogério sentava-se junto com a oncinha, enquanto eu cuidava da tarântula, alegres pelo bom entrosamento.
O casal continuava suspirando entre barulhos de bocas molhadas, escondidos lá no fundão como sempre.
- ...moro em Jaçanããããããã...
Mais batida - naquela temperatura que curaria pneumonia numa única dose. Cada um que se levantava, aquela marca de roupa molhada por baixo, mostrando uma sexy combinação de calças Lee e sungas molhadas, ou vestidinhos com biquínis. Até que, na subida da serra, começaram as dores de barriga e ânsias de vômito com umas seis ou sete paradas, excluindo as fervidas de radiador. Eu e meu amigo ríamos muito. Rimos mais ainda quando soubemos mais tarde que a ânsia de vômito da namoradinha (aquela do fundão) durou uns 3 meses. Casaram-se logo e a menina recebeu o nome de “Estrela dos Mares” - Stella Maris. Nunca soubemos se por ironia ou por inspiração.
-...e além disso, mulher, tem outras coisas...
As senhoras vieram agradecendo a Deus e perdoando as falhas de todos. As filhas do juiz nos fizeram justiça e nunca mais quiseram saber de mim ou do Rogério. Vibrei quando assisti o casamento da Trintona, agora ex-encalhada, numa coincidência de cerimônia (para eles) e missa das sete (para mim). Tocava a marcha nupcial, mas eu só conseguia ouvir:
- Sô filho único... tenho minha casa pra olhar... eu num posso ficar...
Aquele verão, posso garantir, jamais houve outro igual.
texto: paulo moreira
imagem: internet

domingo, 8 de novembro de 2009

Oceano

Caminhava pela praia, a mente ia e vinha como que acompanhando o ritmo das ondas. Aqueles quadris eram assim: por vezes, mar agitado e ansioso, terminando sempre por uma explosão incontrolável – água encontrando as pedras – corpos explodindo amor; d’outras, calmo e compassado, imitando um berço imaginário, balouçando-se até encontrar repouso no sono.
Lembrava daquele alguém com o desespero dos sem razão e gritou ao mar aquele nome, pedindo ao vento levasse os sonhos e sons até o limite do horizonte, mil vezes. Até enrouquecer e quase enlouquecer.
Imaginava aquele amor à semelhança do oceano. Pela imensidão incalculável de tanto mar profundo; por tanto e profundo amar. E pediu a todos os deuses possíveis e impossíveis aquele amor de volta, rogando a si, o mesmo milagre do refluxo das águas inquietas.
Viu-se naqueles braços novamente e mais uma vez a sensação de estar inundado daquele alguém, como sempre, a quase afogar-se em seus próprios uivos misturados como salivas e secreções.
Olhou o céu e as estrelas e comparou-as à mesma aura que iluminava o quarto em cada mágica do amor. Do prazer cintilante e do suave brilho dos olhos cor de lua cheia, na tranqüilidade do sereno carinho após unhas cravadas, firmes ataques e armadilhas, luta e suor – que culminavam no quase desmaio feliz dos que venceram juntos a mesma doce batalha. Dos momentos em que faziam-se cúmplices contra as mesmas tempestades. Estava agora em total nulidade. Naufragara. Havia perdido sua embarcação, bússola e alimento. Junto a eles, sonhos, esperanças, razão de viver. Fora-se o tempo.
Imaginou as conchas e teve a lembrança dos dois dormindo em forma de. Lembrou-se das mãos que tomaram forma de concha em seu jeito de afagar e esboçou um sorriso. Quais seios, no mar, moldariam as conchas? Conchas no ouvido, revelam os suspiros e segredos do mar.
Uma lágrima escorreu até sua boca e sentiu aquele gosto salgado de pele. Não. Aquele corpo não era salgado. Era um agridoce único ao qual seu paladar se acostumara. Mar e amor não se explica o paladar, pensou. Lembrou das bocas milhares em que procurou, alucinado, aquele gosto e mortificou-se por ter, em tantos corpos, imaginado-se sempre estar amando aquele mesmo. Entre tantos gritos, ter ouvido a mesma voz. Entre estar vivo e ter morrido tantas vezes.
Reviveu os momentos em que, anos atrás, pensou todas as mesmas coisas e pediu a Deus; aos senhores e senhoras dos oceanos - com desespero, com angústia – a volta daquele ser amado. De espírito despido e inocente, suplicou como o mais desvalido dos mortais. Foi atendido.
Sabia que o mar devolvera-lhe o que julgava perdido. E viveu anos de ilusão, pensando estar feliz ao lado daquela mesma pessoa. Para um dia mais tarde, descobrir-se não amado e quem estava ao seu lado poderia ser uma pedra, um galho, uma gaivota morta na areia. Seria indiferente. Seu espírito virou lamento mudo.
Tinha consciência que tudo que as águas engolem, devolvem. Mas os seres vivos, devolve-os apenas corpos, carcaças. Tivera de volta, o corpo frio e rígido de seu amor, assim como cada gesto e atitude. Percebia, na rotina do dia-a-dia, que a essência havia se perdido. Os carinhos, os sorrisos, a cumplicidade, os filhos jamais vieram ou foram os mesmos. O oceano houvera entregado muito pouco do que levara. Nada e nunca voltaram a ter a mesma alma, percebeu.
Insano, continuou caminhando mar adentro. Agora iria, finalmente ao encontro daquele ser amado. Encontraria na escuridão das águas profundas a essência daquela alma e a ela se juntaria para sempre, como sempre lamentou ter sonhado.
E caminhou, caminhou. Rumo ao horizonte das águas e seu reino. Para não mais precisar caminhar.
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texto: paulo moreira
imagem: olhares.com - portugal

terça-feira, 3 de novembro de 2009

Traição

imagem: fernando cesar - olhares.com - portugal

domingo, 25 de outubro de 2009

Integridade

O silêncio não significa cegueira. A filosofia do Direito é baseada num tripé:
Viver honestamente; a ninguém prejudicar e dar a cada um o que é seu.
Futuro administrador:
- A ação sempre fala mais alto. Por isso, agir com integridade é nosso dever. E, sabemos, isso não deve ser um monopólio de administradores. É um patrimônio das pessoas de bem.
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texto: paulo moreira
imagem: Igor L - toronto - canadá
Dica para alunos que desejam ou precisam rever a matéria dada no módulo anterior, inclusive com questões que caíram na prova e gabaritos:

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

pessoas, passarinhos e anjos

Existem duas maneiras de podermos ouvir o canto de um pássaro todos os dias, o tempo todo:
Uma é ter árvores, flores, plantas diversas ao redor de nossa casa. É vibrar com a lenta aproximação da luz e dos piados tímidos que anunciam a chegada do novo dia, evoluindo para uma algazarra que festeja a vida e a liberdade. Sorrir por, talvez, não possuirmos um lugar assim mas, sermos agraciados com a visão de seu voo livre e, mesmo ao longe, poder ouvir seu trinado. Ter a consciência que Um Ser Maior enviou "chaveirinhos" de anjos para nos alegrar o espírito. Alegria de amar por amar e nada mais.
A outra consiste em invadirmos algum lugar assim e, sordidamente, prepararmos armadilhas para que o ingênuo passarinho caia numa delas. Ou, quem sabe, numa inequívoca demonstração de poder, já o compremos escravo. A alegação é amar o bichinho; proteger-lhe dos predadores ou fazer supor que, uma vez escravo, em liberdade seria uma inútil vítima nas mãos de outros piores que nós mesmos. E ainda mais egoístas. Prova de amor é ter um canto só para si. Em troca, algum alimento. Ora, por favor...
Se lhe furarmos os olhos, é provável que seu canto torne-se ainda melhor aos nossos "apurados" ouvidos. Sim, os melhores cantos são os cantos da tristeza sem fim, da dor que apunhala e do desespero sombrio. A música que mais fundo deveria tocar a alma é suave doçura aos ouvidos dos que nem a própria consciência escutam. Dar fio à lâmina do egoísmo. Aviltar uma criaturinha cujo mal maior foi ter nascido para voar, cantar e ensinar a felicidade de ser livre.
É o não amar.
Na primeira hipótese, teremos o gorjeio alegre daquele que nos visita diariamente com o intuito de ter a certeza do alimento e da paz. Daquele que nos dá seu melhor trinado como brinde a um querer bem infinito. O presente sem preço de sua graça e agilidade. Um bilhete de Deus, transcrito em notas musicais e movimentos de asinhas de minúsculos grandes anjos.
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Existem duas maneiras de podermos ouvir o canto de um coração todos os dias, o tempo todo:
Uma é ter amor, plantar sorrisos, alegrias e esperança dentro de alguém. Sorrir por cultivar a compreensão; por tentar tornar esse coração mais pleno; feliz por poder amar sem ser dono de absolutamente nada e, paradoxalmente, possuir tudo. Uma eterna criança, desprovida de qualquer maldade, brincando com seu trabalho e todos que o cercam. Emocionar-se ao sentir a felicidade das inocências. Poder entregar seu corpo e seu ser com a mesma espontaneidade e a alegria com que recebe; como o melhor presente do mundo.
A outra é, tal qual as armadilhas da mata, criar vínculos que surgem da carência de amor. Usar a sedução advinda da facilidade de criar ilusões em corações menos previdentes e, com ela, construir as gaiolas da dependência; as prisões da necessidade de carinho. Manipular a paixão como ferramenta de domínio e a mínima atenção como migalhas de uma arapuca. Fazer com que a sede de amar e ser amado seja o eterno cativeiro do outro.
Furar os olhos dos sentimentos de alguém para ouvir o canto lamento que sai das suas imaginárias cordas vocais, nas notas de suas atitudes cegas. Feliz pela certeza de que a canção do pássaro na gaiola ecoa agora dentro de um coração humano. Exigir a música triste das notas de um piano perfeito, tocada por mãos mutiladas pelo desencanto de tanto acenar adeus. Deixar as cicatrizes do desencanto tomarem conta do rosto - um dia tão lindo - de quem apenas quis ser feliz. Provocar, pela inconsequência, o passeio daquele que só queria voar e cantar para a vida, pelos arcabouços do próprio pensamento - embotado pelas culpas do que não produziu sozinho. Pretender ser hoje o guia seguro que deveria ter sido no passado e ter a ousadia de chamar isso de amor. Confundir compaixão com a manutenção da cela limpa.
Na primeira alternativa, teremos o mundo de mãos dadas. O prazer pela vida estampado nas pessoas. O verdadeiro querer bem dos olhares sinceros e da segurança que advém de nos sabermos queridos e de lutarmos por isso. Optar pelos caminhos que quisermos percorrer juntos e os horizontes que vierem, serem sempre bem vindos. Amar verdadeiramente e sem máscaras ou limites. Lembrar sempre que grades comuns não conseguem deter os anjos.
Abrir a janela e enxergar um beija-flor seduzindo sem cerimônias a nossa flor, sem saber quem é o imitador: nós ou ele. Mais um bilhetinho.
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texto: paulo moreira
imagem: internet

domingo, 18 de outubro de 2009

lentes na escuridão

Acordou e não conseguiu tão rápido cair em si. O sonho houvera sido muito marcante e ainda levava consigo as sensações dele. Sonho de beijos molhados e rostos desconhecidos; na seqüência, ruas vazias e a névoa de uma noite de abandono.
Apalpou ao lado procurando os óculos, enquanto os pés procuravam os chinelos. Encontrou-os pela automação diária dos hábitos. Levantou-se e tateou até o interruptor. A luz repentina invadiu os olhos que arderam. Resolveu não acender mais nenhuma e ficou arrastando-se pela casa. Com a mente não atinando em nada, tropeçou no tapete. Tropeços são parte da vida.
Na escuridão da sala tentava pensar em algo, mas estranhamente nada surgia para poder pensar. Ainda estava sob a emoção do sonho, do qual só trazia resquícios de sensações procurando a lógica da letargia. Nada. No sofá, apenas vultos dos móveis e um silêncio desafiador. Madrugada.
Sem fome, passou pela cozinha indiferente e andou feito um zumbi pela casa. Foi e voltou várias vezes. A mente ainda vazia. Só restava voltar para o quarto e continuar o sono.
Entrou, apagou a luz e deitou-se na cama. Não havia tirado os óculos e só ao virar-se para o lado sorriu do detalhe bobo. Sentiu-se idiota ao tirá-lo e recolocá-lo umas três vezes para comprovar o óbvio. No escuro total do quarto não fazia a menor diferença tê-lo ou não.
As lentes não eram menos lentes, nem seus olhos menos míopes. Assim como o armário, o quadro e a janela eram os mesmos. Pensou na tolice que lhe guiava os sentidos e sentiu-se como um nenê pensando diante do chocalho no berço. Na escuridão total, nada faz diferença.
Passou pela cabeça o nome daquela pessoa e, susto maior, nenhuma imagem surgiu. Imaginava sempre as noites que passaram juntos e das quais trazia as lembranças que, hoje em especial, teimavam em não surgir.
Deu-se conta dos tempos que ali passara e, sempre que fechava os olhos, vislumbrava as cenas do que fora amor. Noites agitadas em que acordava com o corpo chamando por esse alguém; em que as próprias mãos passeavam pelo corpo inquieto, como fossem capazes de trazer a presença de um dia. Dos beijos dados no próprio braço, tentando reproduzir o calor daquele corpo, ficava a desilusão da ausência.
Tinha amado como ninguém jamais ousara. Houvera abandonado tudo em razão da luz daquele amor. Abandonara, talvez, a própria vida em direção a ela. Dos momentos, sentia a falta; desde cada beijo ou carinho trocado, até o fundo da alma cicatrizada pela distância muita e o desprezo mudo.
Até então, bastava fechar os olhos e pensar naquele amor, para que no escuro e na solidão de seu quarto surgissem aquelas paisagens iluminadas de lindas cenas indecentes. Vinham os planos a dois, as conversas trocadas, as esperanças. A vida tornava-se luz.
Mas, naquela noite não era mais assim.
Sabia que, a partir dela tudo estaria ali, a exemplo de seus armários, janelas e objetos. Embora ali estivessem - seus olhos, suas lentes e o resto do quarto não seriam suficientes para resistir à ausência de uma nesga de luz que fosse. Era impossível enxergar alguma coisa.
Lembrou-se de ter dito um dia que a ausência da pessoa amada fazia sua vida tornar-se noite. Tinha razão. Dezenas de anos e milhares de dias haviam se tornado assim agora.
Só então caiu em si.
Na mesa de cabeceira faltava alguma coisa. Talvez, um porta-retratos imaginário, no qual diariamente admirava tantos anos de tanto amar. Mesmo que apalpasse, acendesse a luz ou colocasse os óculos, não o veria mais, qualquer que fosse o lugar. Revoltados conosco talvez, certos retratos tornam-se invisíveis. Intocáveis.
Seu coração foi retirando pouco a pouco, entre tantos desacertos e desencontros, esse alguém de dentro de si.
Não era necessário mais pensar. Era suficiente saber que, mesmo que poderosas lentes fossem implantadas em si, não mais enxergaria o amor que havia ficado em algum lugar do caminho, onde as estrelas cintilavam ou onde o sol nascia senhor da Terra. Sem fonte de luz, cegueira e lente são irmãs gêmeas.
Jogou fora os óculos do coração. Virou-se para o lado e dormiu diferente dos dias em que dormia para poder sonhar. Dormiu sem porquê; nem feliz, nem infeliz.
Dormiu para permitir que o dia amanhecesse.
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texto: paulo moreira
imagem: arquivo pessoal

domingo, 11 de outubro de 2009

Mulher!!!!!!!!!!!!!!!


Eu não sirvo de exemplo pra nada, mas, se você quer saber se isto é possivel, me ofereço como piloto de testes. Sou a Miss Imperfeita, muito prazer. a imperfeita que faz tudo que precisa fazer, como boa profissional, mãe, filha e mulher que também sou: trabalho todos os dias, ganho minha grana, vou ao supermercado, decido o cardápio das refeições, cuido dos filhos, do marido (se tiver), telefono sempre pra minha mãe, procuro minhas amigas, namoro, viajo, vou ao cinema, pago , minhas contas, respondo as toneladas de emails, faço revisões no dentista, faço mamografia, caminho meia hora diariamente, compro flores pra casa, providencio os concertos domésticos, e ainda faço as unhas e depilação!

E entre uma coisa e outra leio livros!

Portanto, sou ocupada, não uma workholic.

Por mais disciplinada e responsável que eu seja, aprendi 2 coisas que operam Milagres:

1º a dizer NÂO

2º a não sentir um pingo de culpa por dizer NÃO. Culpa por nada, aliás.

Existe a Coca Zero, o Fome, Zero, o Recruta Zero. Pois inclua na sua lista o Culpa Zero.

Quando você nasceu nenhum profeta adentrou a sala da maternidadee lhe apontou o dedo dizendo que a partrir daquele momento você seria modelo pra ninguém.

Seu pai e sua mãe, acredite, não tiveram esta expectativa: tudo o que desejaram é que você não chorasse muito durante as madrugadas e mamasse direitinho.

Você não é Nossa Senhora.

Você é humildemente uma mulher.

E se não aprender a delegar, a priorizar e se divertir, bye-bye vida interessante. Porque vida interessante não é ter agenda lotada, não é ser politicamente correta,não é topar qualquer projeto por dinheiro, não é atender a todos e criar para si a falsa impressão de ser indispensavel. È ter tempo.

Tempo pra fazer nada.

Tempo pra fazer tudo.

Tempo pra bisbilhotar uma loja de discos.

Tempo pra sumir dois dias com seu amor.

Tres dias...

Cinco dias.

Tempo para uma massagem.

Tempo pra ver novela.

Tempo pra receber aquela sua amiga que é consultora de produtos de beleza.

Tempo pra fazer um trabalho voluntário.

Tempo pra procurar um abajur novo pra o seu quarto.

Tempo pra conhecer outras pessoas.

Pra voltar a estudar.

Para engravidar.

Tempo para escrever um livro que você nem sabe se um dia será editado.

Tempo, principalmente, para descobrir que você pode ser perfeitamente organizada e profissional sem deixar de existir.

Porque nossa existencia não é contabilizada por um relógio de ponto ou pela quantidade de memorandos virtuais que atolam nossa caixa postal.

Existir, o que será que se destina?

Destina-se a ter tempo a favor e não contra.

A Mulher moderna anda muito antiga. Acredita que se não for super, se não for mega, se não for uma executiva ISO 9000, não será bem avaliada. Está tentando provar não sei o que pra não sei quem.

Precisa respeitar o mosaico de si mesma, privilegiar cada pedacinho de si...

Se o trabalho é um pedação de sua vida, ótimo!

Nada é mais elegante, charmoso e inteligente do que ser independente.

mulher que se sustenta fica muito mais sexy e muito mais livre pra ir e vir. Desde que lembre de separar algusn bons momentos da semana, para usufruir esta independência, senão é escravidão, a mesma que nos mantinha trancafiadas em casa, espiando a vida pela janela.

Desacelerar tem um custo. Talvez tenha que esquecer a bolsa Pradao hotel decorado por Phillipe Starck,e o batom da M.A.C.

Mas, se você precisa vender sua alma ao diabo, para ter tudo isto, francamente, está precisando rever seu valores.

E descobrir que uma bolsa de palha, uma pousadinha rustica abeira do mar e o rosto lava ( ok, esqueça o rosto lavado) poder ser prazeres cinco estrelase nos dar uma nova perspectiva sobre o que é, afinal, uma vida interessante.


texto: Martha Medeiros Jornalista e escritora

retirado: Jornal O Globo.
imagem: internet



terça-feira, 6 de outubro de 2009

Números mágicos coloridos

- Cara, não é possível! Ela está nos tratando como se fôssemos a turma do prezinho... Não pode estar falando de matemática financeira! Está nos tratando feito crianças. Estou me sentindo um retardadinho.
E ela continuou sua primeira aula contando das coisas mais primárias da matemática, de filósofos, de coisas aparentemente fora do mundo. Não aguentei e disse, cheio de ironia, ao professor local:
- Tio Valdir, acho que "suzei a faldinha".
O Valdir riu e, aos poucos, toda a petizada estava bem quietinha, prestando atenção na moça divertida dos números. Desta vez, falei para o Luciano:
- Acho que somos a Turma do Balão Trágico!
Era incrível. Ela parecia uma mistura de Noviça Rebelde com um tempero de mãe compreensiva e menina colega; talvez uma personagem do teatro das calculadoras encantadas. Tudo junto. Terminada a primeira aula, lá fora trocávamos idéias e impressões e a Zaia foi muito feliz quando obtemperou:
- Diga o que quiser, mas que todo mundo ficou prestando a atenção o tempo todo, ficou! Ela conseguiu o que queria.
Na segunda aula, percebemos que já havíamos crescido um pouco mais (pior, ela deixava isso muito claro) e já ousava dizer de números um pouco mais complicadinhos, segundo nossa concepção. Em cada resposta, o cuidado de um sorriso que acolhe. O bom humor e uma inteligência afiadíssima, pouco a pouco nos conquistando naquele jeitinho de conduzir sua aula. Agora, já levando nosso raciocínio para o rumo que quisesse.
E nos ensinou que o monstro dos números não era tão feio e forte como parecia em nossos piores pesadelos. Embalou nossas aulas, tirando o medo dos juros acumulados e agiotas papões.
Fez, com um carisma de poucos, nos sentirmos seguros numa viagem, agora, com números mais vivos, mais coloridos - menos ameaçadores. Conseguiu que muitos dessem o dedinho com a matemática, para tentar fazer as pazes.
No esforço de se fazer entender, de querer ensinar bem, não mostrou-se a "star" dos números, mais parecendo, por vezes, aquelas mocinhas estudiosas e sonhadoras das periferias. Mostrou-se uma professora simples, cujo maior objetivo é o de conquistar seus alunos e fazê-los aprender. Com a graça e a magia das madrinhas legais. O pessoal de todos os polos e idades sabe muito bem que estamos falando de alguém que faz números parecerem playgrounds.
Todo aluno é sempre uma alma de criança e ela entende e lida com isso muito bem. Uma das melhores professoras que conheci.
Parabéns, 'fessora Ivonete! Não fosse Campo Grande tão longe, te entregaria uma maçã bem vermelhinha. Cuidadosamente lustrada!
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texto: paulo moreira
imagem: olhares.com - portugal

domingo, 27 de setembro de 2009

As rosas silenciosas

No dia 6 de Agosto de 1945, ao final da Segunda Guerra Mundial, a cidade japonesa de Hiroshima foi desnecessariamente bombardeada pela força aérea americana. Três dias mais tarde seguiu-se o bombardeio de Nagasaki. Sua justificativa era forçar a rendição do Japão, porém, o que ficou evidenciado era que ambas faziam parte de uma verdadeira demonstração de força do armamento nuclear dos EUA. O mundo silenciou de vergonha e de pavor; silenciou para lamentar e refletir.
Passaram-se mais de 60 anos do ato que gerou a morte de mais de 250.000 pessoas.
Hoje, durante esse tempo, temos a impressão que o sîlêncio que antes significava repúdio, nada mais foi que a incubadora de novas idéias. Para que tanto barulho? As bombas não foram desativadas ou deixaram de existir. A maldade e ânsia pelo poder não se foram; apenas mudaram suas vestes, camuflaram seus uniformes.
Do silêncio veio a solidão e o afastamento das pessoas, veio o desamor e o descaso, veio uma nova e estranha conduta de pais e educadores - com gerações de jovens morrendo silenciosos diante da infâmia da droga - uma das novas rosas silenciosas que não fazem escândalos, mas nem por isso são menos devastadoras, ao contrário. As novas rosas não queimam e sua radioatividade tem outro aspecto, não menos contagiante. Drogas, não compaixão e indiferença estão entre suas espécies e matam milhares de vezes mais do que foi Hiroshima e Nagasaki.
E, a cada dia, nossos olhos tornam-se mais frios, nossos sorrisos mais ortodônticos e photoshópicos, nossas atitudes mais omissas, diante de cada "bomba" lançada sobre um ser humano. Cada dia mais, aprendemos a dizer adeus aos nossos amigos, um dia adolescentes e cheios de vazios e ausências. Aos nossos filhos e amores também. Na arte de viver, nesses tempos, inteligência e inclemência são rimas tragicamente perfeitas.
É preciso entender que é tempo de sorrir, de compartilhar, de estar junto. Tempo de não ser ainda mais seres de pedra. Tempo para gritar de revolta, de vergonha, de basta - para poder, um dia gritar pela alegria de educar crianças e adultos para um mundo mais livre e mais feliz. Soltar a voz num canto maior. Abolir o silêncio, matando a síndrome do medo de dizer eu amo você. Para um pássaro, um amigo, um amor especial ou mesmo para um céu bonito.
Que os nossos pequeninos gestos - cada um deles - sejam a entrega de outras rosas. Rosas de zelo, de sensibilidade e de querer bem a cada ser vivente. De eterna primavera.
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texto: paulo moreira
imagem: find 3D xp - u.s.a.
consulta de tema: shvoong

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Gratidão

Aos 17 anos, Geraldo Moreira colocou a Floriza na garupa do seu cavalo e resolveram sair pelo mundo. Deixaram para trás o Anjão – marido da formosa – que ficou desconsolado ao ver que ela partia, sem sequer pronunciar um sinto muito.
Aos 30 anos, Floriza descobriu o amor que, em mais de 12 de casada, ainda não havia descoberto. Por sua vez, o Geraldo descobria que uma mulher vivida sem ter vivido, tinha muito amor guardado em si.
Pior foi que, na partida, Geraldo teve a petulância de enfiar o dedo em riste na cara do Anjão, dizendo:
– Escuta aqui! Nem pense em nos seguir ou procurar, pois que, senão faço a moça viúva, tá entendendo?
E tem outra:
– Amigo bom não se magoa!
Anjão só soube dizer:
– Cuide bem da Floriza, Geraldo. Por favor, cuide bem da minha Flor...
– Cuidarei, Anjão, pode deixar. Até algum dia!
Floriza não deu um gesto, não disse palavra e nem olhou para trás; o que só serviu para aumentar ainda mais o estrago no peito do Anjão.
Desde então, o Anjão tomava todas. Pegava a rabeca e cantava tristonho uma canção tão chata e sem fim quanto a ausência da Floriza. Noites que pareciam eternidade no inferno.Tadinha da rabeca! Nem a Floriza, em 12 anos, foi tão esfregada.Fosse um tamborim, haja gato!
Mas, palavra dada, palavra cumprida.
Depois de uns 6 meses, voltava Geraldo com a Floriza, sorridente e barrigudinha, ao quintal do assombrado marido.
– Toma, Anjão, recebe tua mulher maravilhosa. Ah... linda Floriza. Grande mulher... como mãe vai ser melhor ainda! Cuida bem do teu filho, que deve nascer daqui uns 2 meses. Parabéns, paizão!
Bonito ver o Anjão, pai sem igual, repetindo por muito tempo a quem quisesse ouvir :
– Deus abençoe o Geraldo! Homem bom demais! Foi ele quem trouxe de volta a minha Flor do Amor!
Só que o Anjão foi duríssimo na atitude e não deixou por menos:
Por desaforo, quebrou a malvada rabeca! Para nunca mais lembrar aquela maldita musiquinha!

texto: paulo moreira (do livro "perfume de coração")
imagem: funpic - hungria

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Mãos sem perdão

Perdoe minhas mãos.
Certas mãos não sabem o que fazem. Deveriam ser de carinho, mas foram apenas aquelas que deixaram marcas e que sufocaram; que asfixiaram almas. Deveriam amparar e serem guias; no entanto, abandonaram num labirinto.
Perdoe minhas mãos por serem assim.
Apontam e atacam, quando deveriam guardar e ser mãos que trabalham. Antes que alívio, trazem a dor, fazendo de seus afagos, as feridas. Antes que aconchego, fomentam o desespero. Que, ao invés de carregarem um coração, impõem-lhe a mágoa.
Perdoe essas minhas mãos.
Criadas para serem mãos de cura, causam doenças, contaminadas por vírus de desatinos. Mãos descuidadas que não mais recebem – apenas jogam fora. Que preferem um aceno de adeus à alegria de receber na chegada. Mãos de partida. De desengano.
Perdoe a frieza de minhas mãos.
Por saberem que foram feitas para intervir nas discórdias, mas escolhem bater. Por só levarem o alimento à boca que lhes pertence e a ninguém mais. Mãos feitas para plantar, porém, descuidadas, perdem sementes pelo caminho. Que transformam as terras que lhes são dadas ao plantio do amor, em vastos desertos estéreis e de decepção, dos quais subverte as areias, regando-as com lágrimas.
Perdoe-me.
Por não saber usar ou conter as mãos insanas. Por não unir as mãos para uma prece sequer. Por, ao invés de oferecer o anel da aliança, ter amputado a delicadeza dos dedos de sua alma e lhes infligir a paralisia dos gestos.
Perdoe essas mãos setenta vezes.
Por não saberem construir o que puseram abaixo. Pela covardia de não conseguirem por fim em seu próprio desvario e repousarem no peito.
Perdoe essas mãos que não sabem sequer rogar perdão.

texto: paulo moreira
imagem: photoforum.ru - rússia

domingo, 6 de setembro de 2009

A superstição do celular

Entre uma escola e outra, no meio do caminho, vinha a professora com um repentino e “esquisistranho” pensamento que, feito um pernilongo, começou a incomodar.
Não era supersticiosa, mas passar debaixo daquela escada do pintor no pátio no exato momento em que ele concluía uma letra Z no novo letreiro da escola, não a deixou bem.
- Ah! Bobagem, superstição!
Continuou em seu raciocínio. Semana que vem chegaria 11 de setembro e onze é um número esquisito. Onze é número primo. Não. Pensando bem, onze é um número gêmeo. Número primo é um que só se divide por 1 e por ele mesmo e o onze é assim, mas ele é parente mais próximo que um simples primo. Só pode ser gêmeo e, ainda por cima, daqueles univitelinos. Deve dar azar também, porque foi no dia 11 de setembro aquele caso das torres gêmeas. Número infeliz. Tipo do numerozinho egoísta que só se divide a “sipóprio” e, quando se divide, ao invés de restos - deixa escombros. Não se lembrava direito se aquele número era racional, natural, inteiro (inteiro não podia ser) e acabou, apesar da vaga lembrança das aulas de matemática, com uma conclusão brilhante:
- 11 é um número gêmeo, que não se divide por nada, exceto por boeings; faz parte do conjunto dos números irracionais, impossíveis e inacreditáveis, muito bem representado por “iih” (iih! Deu errado de novo!).
Precisava parar de pensar aquelas bobagens. Estava parecendo pesadelo de véspera de prova na faculdade. Tentou lembrar se suas provas caiam sempre no dia 11 e, quanto mais procurava lembrar, mais o dia 11 se fazia presente. Chegou a se convencer que se casara num dia 11 e questionou-se se não era novembro – 11/11 – Deus livre e guarde!
- Ah! Bobagem, superstição!
Afastou seus pensamentos como quem afasta pernilongos e, depois do primeiro tapa na orelha, já nem se recordava de mais nada. Continuou seu caminho, chegando à escola para mais uma jornada. Feliz com seus aluninhos, ouviu o sinal do intervalo e dirigiu-se para a sala dos professores para seu merecido cafezinho e descanso. Hora também de ligar para o marido para a atualização de broncas do dia anterior “Parte II” (a Parte I era sempre no horário do almoço). Sorriu, divertida, com a idéia de que, se o cachorro é o melhor amigo do homem, o da mulher é o celular. Ao abrir a bolsa, qual não foi a surpresa: alguém abrira sua bolsa e levara seu fiel amiguinho - Totó Nokia.
Frio na espinha, arrepio, tremedeira. Sem se dar conta ainda por completo da situação, lembrou-se de uma coisa que sempre dava certo nessas horas:
- São Longuinho, São Longuinho, se encontrar meu celular dou 3 pulinhos! Dou 30; 3 é muito pouco. Desculpa São Longuinho, sei que o celular vale mais... tá bom... 300 pulinhos!
Mas, dia útil e horário de trabalho, São Longuinho podia estar muito ocupado e, por via das dúvidas, o melhor era sair perguntando se alguém o vira. De imediato notou que o melhor amigo do homem pode ser mais rústico, mas basta chamar pelo nome, que aparece. Percebeu então sua genialidade. Correu para a secretaria e pediu que ligassem para o Totó. Ao ser questionada sobre o número, verificou que, desde há muito, esquecera o número. Procura daqui, procura dali, achou uma amiga que ligava sempre e forneceu de imediato. Suspense... a idéia não podia falhar. Sorriu quando atenderam. Mas, descobriu que a felicidade é algo muito transitório e fugaz quando aquela sensual voz feminina disse:
- Claro informa: o número discado está desligado ou fora de área. Deixe seu recado na caixa postal... A Claro agradece, é Claro!
- Claro! Claro! Claro que quem levou o Totó não iria atendê-lo. Meu Deus, como sou Tonha. Tenho mais uma alternativa: a Diretora. Pensamento feito, pensamento executado. E a diretora:
- Tem certeza que estava mesmo em sua bolsa? Não o esqueceu em casa?
- Claro! Sem trocadilho diretora, tenho certeza. Antes de começar minhas aulas xinguei meu marido por telefone, inclusive fiquei nervosa porque no meio da bronca ele começou a imitar toque de ocupado: “pim – pim – pim... seu amorzinho tá fora de área, depois a gente se fala”. Tem hora que ele é tão bobo...
A diretora não teve dúvidas e falou bem alto:
- VAMOS FAZER UM BOLETIM DE OCORRÊNCIA! AVISA PARA A PORTARIA QUE NINGUÉM ENTRA OU SAI SEM AUTORIZAÇÃO. AVISA TAMBÉM QUE ELE SÓ DEVE ABRIR EXCEÇÃO PARA A VIATURA POLICIAL. Portaria sempre é bom dar a ordem bem explicadinha... Vamos ligar para a polícia.
Ordem dada, ordem cumprida. Ninguém entrou nem saiu. Só o policial. Tudo registrado, tudo documentado, tudo esclarecido e explicado. Só o Totó Nokia permanecia desaparecido.
Enquanto isso, nossa triste professorinha continuava sua aula, já sem muita animação, embora firme na sua tarefa. Pensava com seus botões:
- Eu tinha certeza. Minhas premonições não falham e sou capaz de apostar que no dia 7 de setembro, vou ter que desfilar debaixo de chuva. Número 7 é tão esquisito quanto o 11. É um número meio místico e, com a sorte que estou, é capaz de bem no meio do desfile e do Hino da Independência - o que abra as asas sobre mim - seja algum teco-teco perdido por causa da chuva. Droga, todo 7 de setembro chove...
- Ah! Bobagem, superstição!
Só que tremeu, ao lembrar-se de uma advertência do marido:
- Dar bronca em quem se ama, depois do almoço, dá indigestão. É mais perigoso que tomar banho de barriga cheia ou cafuné depois do almoço. Dá um azar danado!
Seria praga? Praga de marido pega mais forte que o de mãe. Rogou à Nossa Senhora do Patrocínio uma ajuda, mas parecia que a situação tivera o patrocínio da Claro mesmo. Antes eles sumiam só com o sinal; agora, parece que resolveram sair da abstração da linha e ir direto ao assunto. Imaginou ter ouvido uma voz do além dizendo que acharia logo o bem que lhe houvera sido subtraído.
- Ah! Bobagem, superstição!
Não demorou meia hora, chega uma aluna com o aparelhinho na mão:
- Achei fessora, achei.
E a menina havia mesmo encontrado, debaixo de uma pedra, num buraco pelo canto da escola.
Dessa forma, todos continuaram felizes para sempre.
A professora não esqueceu de ligar para o marido:
- Amor, levaram meu celular, mas já o encontrei. Só liguei pra dizer que te amo mais do que nunca e prometo te dizer isso todo dia na hora do almoço.
A diretora feliz por ter, a seu ver, resolvido a situação. Apenas achou engraçado ver a professora pulando com as crianças e dizendo para continuar a brincadeira do canguru que pula 300 vezes. “En passant”, falou para a professora:
- Você teve sorte de reencontrar seu celular.
Riu divertida, e emendou brincando:
- Pensei até em fazer alguma simpatia a seu favor... Parece coisa do Saci-Pererê. Você acredita nessas coisas?
Ouviu daquela mocinha toda segura de si:
- Ah! Bobagem, superstição!
.
texto: paulo moreira

terça-feira, 25 de agosto de 2009

Flores que dizem

Sensibilidade é ter olhos que assistem outros olhos serenos e lhes percebe a paz que levam. Delicadeza.
É sentir coisas impossíveis de se explicar ao ver uma pétala de rosa com gotas de orvalho e perceber que a imagem é a mesma de ver a si próprio com as gotas da noite fria e deserta de presenças ou sonhos. É saber acariciar peles com o dorso das mãos sem quase tocá-las. Emocionar-se ao ver estrelas e ter dó de si por estar só. Ter saudade do que não pode ser, como tivesse sido. Angústia pela solidão da noite.
Sensibilidade é sofrer o sofrimento de outrem, não importa quem. Sentir que cada injustiça sofrida pelo mendigo ou milionário, mulher, homem, animal ou planta - até pelas pedras - dilacera seus olhos-pétalas de orvalho. Olhos de sensibilidade não choram; orvalham.
Delicadeza de transformar as angústias, tristezas, alegrias e qualquer sentimento, em mãos que dizem sob qualquer forma, o que lhes atravessa a alma. Seres generosos. Seres movidos à emoção.
Homens tornam-se anjos quando mulheres, que transformam-se em fadas, voam perto. Fundamental tê-los junto para entender que a vida é um maravilhoso milagre. Ter a possibilidade de assistir como é que uma mulher pode ser mágica, sendo apenas uma Flor.
Sensível a ponto de, em porções de massa - que parecem ter em sua fórmula, todos os sentimentos mais profundos que alguém possa ter - moldar peças com a imagem de sua inexplicável delicadeza. Despertar entendimento entre formas e cores, obrigando-nos a sorrir com pureza, a amar e querer bem sem limites.
Obrigado, Florzinh@.

texto: paulo moreira
imagem e produção da obra (modelagem em biskuit): florzinh@

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Ah, mar!

O mar leva o que escrevemos na areia
Mas, o sentimento – não pode levar
Renitentes, voltamos depois da cheia
Para ouvir a tristeza de uma sereia
Seu canto triste, um triste lamento
E escrever outra vez, sentimento...
Na esperança de agora, na areia ficar
E ele retorna revolto e teimoso
Ensinando, maravilhoso
Aquilo que não sentimos presente...
Nos gritos desesperados
Próprio dos corações desatinados
Lamentos para o mar inclemente
A própria voz de queixa – a falar e falar...
– Ah Mar! Amar!

(paulo moreira)
imagem: tiago (NexuX) - olhares. com - portugal

sexta-feira, 14 de agosto de 2009

Continuar

imagem: vanessa massote paulinelli - olhares.com - portugal

sábado, 8 de agosto de 2009

Partidas - (Dilson - Nova Etapa)

Não esqueça nunca que os jardins apenas se renovam e que as flores precisam iluminar novos jardins. Talvez por isso, parece-nos que houve seguidas perdas.
Na verdade, se em nosso coração fez-se inverno aqui - em algum lugar está chegando a primavera. Em tempos de frio é necessário que os corações se abracem para suportá-lo e para que se tenha a alegria de saber que a primavera vai e vem numa sequência sem fim. Assim será para que, em todos os lugares do universo, possam haver flores. Ciclos que podem nos fugir ao entendimento, por ora.
Um dia, certamente, compreenderemos a necessidade de todas as estações para que se faça a eternidade dos planos.

***

Nosso amigo Dilson Alberto de Oliveira, no dia 7 de agosto de 2009, deixa a turma do Polo Araras. Algumas partidas são difíceis de entender ou aceitar e, quando isso acontece, precisamos voltar nossas mentes ao Criador e saber que uma nova estação começa.

- É bom, Dilson, ter a certeza que nada termina - apenas novas jornadas se iniciam. Novos jardins precisam ser plantados. Sentiremos saudades!

texto: paulo moreira
imagem: internet

sábado, 1 de agosto de 2009

Aulas Suspensas

COMUNICADO IMPORTANTE

EM FUNÇÃO DE DECRETO MUNICIPAL, FICAM SUSPENSAS AS AULAS NAS DUAS UNIDADES DA FACULDADE MUNICIPAL -POLO ARARAS ATÉ O DIA 16/08/2009, OU ATÉ SEGUNDA ORDEM.

sexta-feira, 24 de julho de 2009

Acabou a folga


Oi meninos e meninas to morrendo de saudades de todos... Mas a folga está acabando... as aulas voltam dia 28/07/2009.

Ah e lá no portal já tem material postado e tambem o calendário deste semestre...

beijos a todos e até dia 28.





Informações para o pólo 1 Araras - Curso de Administração

imagem retirada de: castelodossonhos.blogs.sapo.pt


quinta-feira, 23 de julho de 2009

Certezas

Saber amar é não saber mais nada. É desfazer-se dos vínculos que a certeza cria e não ter certezas. É tudo sentir sem nada perceber. Perceber que nada está ao alcance, mas tudo está presente. Que tudo é presente. Que presente é tempo, é dadiva, é estar no infinitivo.
É saber que, no momento em que os olhares se cruzaram pela primeira vez, seriam presentes para sempre. É saber sem nada conhecer. Sem nada por fazer. Sem nada esperar. É ser o presente. Recebê-lo e dá-lo - no passado e no futuro - para que seja sempre presente.
Amar é saber o que não é possível. É não saber o impossível. Esquecer o tempo e sequer saber de si.
É apenas a certeza de saber e mais nada.
Sem nada saber explicar.
Apenas amar.

texto: paulo moreira
imagem: photoforum - rússia

quarta-feira, 15 de julho de 2009

Bem querer

crédito de imagem: pedro rodrigues - olhares.com - portugal

sábado, 11 de julho de 2009

Os versos que te fiz

Deixe dizer-te os lindos versos raros
Que a minha boca tem pra te dizer!
São talhados em mármore de Paros
Cinzelados por mim pra te oferecer.

Tem dolência de veludos caros,
São como sedas pálidas a arder…
Deixa dizer-te os lindos versos raros
Que foram feitos pra te endoidecer!

Mas, meu Amor, eu não te digo ainda…
Que a boca da mulher é sempre linda
Se dentro guarda um verso que não diz!

Amo-te tanto! E nunca te beijei…
E nesse beijo, Amor, que eu te não dei
Guardo os versos mais lindos que te fiz.

florbela espanca
crédito de imagem: mark freedom

quinta-feira, 9 de julho de 2009

Educar é para poucos. McBurger é para todos.

Dizer que certas pessoas são gênios e leituras obrigatórias - é legal, dá "status". Essas pessoas são tão iluminadas que, depois que falam com simplicidade sobre o que pensam, parecem estar dizendo o óbvio. Mais que gênios, são pessoas coerentes com seu tempo, consigo mesmos e, antes que explicar algo, aplicam o que defendem. Por essa razão, sabem do que estão falando e são tão respeitados, como é o caso do Dr. Içami Tiba.
Quando se trata de educar nossos filhos, porém, vivemos tempos em que poucos de nós pensamos, e cada vez menos falamos em coisas importantes, pois existem os "gênios do que pega bem" para o fazerem por nós. Inteligência delivery. Os aplaudimos, consumimos (nem sempre consumir é fazer bom uso) e achamos o máximo. Claro! Seres que discutem, falam, expoem - estão um passo à frente. O passo que nossa preguiça mental e comodismo não permitem nunca. Ação zero!
Enquanto não percebemos isso, o mundo piora a cada minuto. Nossos filhos também. E não por culpa deles, que acabam ficando sem saber a diferença entre Maternidade e Drive-Thru ou a Cegonha e o Ronald McDonald.
Educar exige responsabilidade, coerência, caráter, pulso, personalidade, dignidade. Exige o pensar e o agir dançando a mesma música. Questão de bom senso.
Concordar com o que se lê - e admirar o autor - proporciona a tantos uma imagem de modernos. Mas, na hora em que mexem com o nosso filhinho a coisa muda. Ele está acima da lei, da ordem, da psicologia e de nós. Sempre caímos na bobagem de achar que quando Deus envia aos pais - o filho - o Espírito Santo vem junto na lancheirinha.
No momento de agir com responsabilidade e aplicar o "óbvio", fica mais fácil atender caprichos. Dá menos trabalho. Uma coisa somos nós perante os outros, outra é nossa postura dentro de casa, perante os nossos. Exatamente essa inconsistência de imagem e ação é que leva às situações absurdas que temos conhecimento todos os dias. Permanecemos intocáveis em nosso reduto e os filhos não foram para o noticiário das TVs. Por enquanto.
Lembrando Cazuza: É tempo de nossas idéias corresponderem aos fatos e vice-versa. Fast food não nasceu pra ser regra. Passou a ser por preguiça! E a preguiça é a mãe da incompetência e madrinha da obesidade.
Veja o texto abaixo - é sério demais. Exige reflexão e maturidade.

texto: paulo moreira
imagem: photoforum.ru - rússia

PALESTRA DO DR. IÇAMI TIBA EM CURITIBA - ISSO CHAMA-SE SERIEDADE
1. A educação não pode ser delegada à escola. Aluno é transitório. Filho é para sempre.
2. O quarto não é lugar para fazer criança cumprir castigo. Não se pode castigar alguém com internet, som, tv, etc.
3. Educar significa punir as condutas derivadas de um comportamento errôneo. Queimou índio pataxó, a pena (condenação judicial) deve ser passar o dia todo em hospital de queimados.
4. Confrontar o que o filho conta com a verdade real. Se falar que professor o xingou, tem que ir até a escola e ouvir o outro lado, além das testemunhas.
5. Informação é diferente de conhecimento. O ato de conhecer vem após o ato de ser informado de alguma coisa. Não são todos que conhecem. Conhecer camisinha e não usar significa que não se tem o conhecimento da prevenção que a camisinha proporciona.
6. A autoridade deve ser compartilhada entre os pais. Ambos devem mandar. Não podem sucumbir aos desejos da criança. Criança não quer comer? A mãe não pode alimentá-la. A criança deve aguardar até a próxima refeição que a família fará. A criança não pode alterar as regras da casa. A mãe NÃO PODE interferir nas regras ditadas pelo pai (e nas punições também) e vice-versa. Se o pai disse que não ganhará doce, a mãe não pode interferir. Tem que respeitar sob pena de criar um delinquente. Em casa que tem comida, criança não morre de fome . Se ela quiser comer, saberá a hora. E é o adulto tem que dizer QUAL É A HORA de se comer e o que comer.
7. A criança deve ser capaz de explicar aos pais a matéria que estudou e na qual será testada. Não pode simplesmente repetir, decorado. Tem que entender.
8. Temos que produzir o máximo que podemos, pois na vida não podemos aceitar a média exigida pelo colégio. Não podemos dar 70% de nós, ou seja, não podemos tirar 7,0.
9. As drogas e a gravidez indesejada estão em alta porque os adolescentes estão em busca de prazer. E o prazer é inconsequente, pois aquela informação, de que droga faz mal, não está gerando conhecimento.
10. A gravidez é um sucesso biológico, e um fracasso sob o ponto de vista sexual.
11. Maconha não produz efeito só quando é utilizada. Quem está são, mas é dependente, agride a mãe para poder sair de casa, para da droga fazer uso. A mãe deve, então, virar as costas e não aceitar as agressões. Não pode ficar discutindo e tentando dissuadi-lo da idéia. Tem que dizer que não conversará com ele e pronto. Deve 'abandoná-lo'.
12. A mãe é incompetente para 'abandonar' o filho. Se soubesse fazê-lo, o filho a respeitaria. Como sabe que a mãe está sempre ali, não a respeita.
13. Homem não gosta quando a mulher vem perguntar: 'E aí, como foi o seu dia?'. O dia, para o homem, já foi, e ele só falará se tiver alguma coisa relevante. Não quer relembrar todos os fatos do dia..
14. Se o pai ficar nervoso porque o filho aprontou alguma coisa, não deve alterar a voz. Deve dizer que está nervoso e, por isso, não quer discussão até ficar calmo. A calmaria, deve o pai dizer, virá em 2, 3, 4 dias. Enquanto isso, o videogame, as saídas, a balada, ficarão suspensas, até ele se acalmar e aplicar o devido castigo.
15. Se o filho não aprendeu ganhando, tem que aprender perdendo.
16. Não pode prometer presente pelo sucesso que é sua obrigação. Tirar nota boa é obrigação. Não xingar avós é obrigação. Ser polido é obrigação. Passar no vestibular é obrigação. Se ganhou o carro após o vestibular, ele o perderá se desistir ou for mal na faculdade.
17. Quem educa filho é pai e mãe. Avós não podem interferir na educação do neto, de maneira alguma. Jamais. Não é cabível palpite. Nunca.
18. Mães, muitas são loucas. Devem ser tratadas. (palavras dele).
19. Se a mãe engolir sapos do filho, a sociedade terá que engolir os dele.
20. Videogames são um perigo. Os pais têm que explicar como é a realidade. Na vida real, não existem 'vidas', e sim uma única vida. Não dá para morrer e reencarnar. Não dá para apostar tudo, apertar o botão e zerar a dívida.
21. Professor tem que ser líder. Inspirar liderança. Não pode apenas bater cartão.
22. Pai não pode explorar o filho por uma inabilidade que o próprio pai tenha. 'Filho, digite tudo isso aqui pra mim porque não sei ligar o computador'. O filho tem que ensiná-lo para aprender a ser líder. Se o filho ensina o líder (pai), então ele também será um líder. Pai tem que saber usar o Skype, pois no mundo em que a ligação é gratuita pelo Skype, é inconcebível o pai pagar para falar com o filho que mora longe.
23. O erro mais frequente na educação do filho é colocá-lo no topo da casa. Não há hierarquia. O filho não pode ser a razão de viver de um casal. O filho é um dos elementos. O casal tem que deixá-lo, no máximo, no mesmo nível que eles. A sociedade pagará o preço quando alguém é educado achando-se o centro do universo.
24. Filhos drogados são aqueles que sempre estiveram no topo da família.
25. Cair na conversa do filho é criar um marginal. Filho não pode dar palpite em coisa de adulto. Se ele quiser opinar sobre qual deve ser a geladeira, terá que saber qual é o consumo (KWh) da que ele indicar. Se quiser dizer como deve ser a nova casa, tem que dizer quanto que isso (seus supostos luxos) incrementará o gasto final.
26. Dinheiro 'a rodo' para o filho é prejudicial. Tem que controlar e ensinar a gastar.
Palestra ministrada pelo Dr. Içami Tiba, Psiquiatra, em Curitiba , 23/07/08. Médico pela Faculdade de Medicina da USP. Psiquiatra pelo Hospital das Clínicas da FMUSP.. Professor-Supervisor de Psicodrama de Adolescentes pela Federação Brasileira de Psicodrama. Membro da Equipe Técnica da Associação Parceria Contra Drogas - APCD. Membro Eleito do Board of Directors of the International Association of Group Psychotherapy. Conselheiro do Instituto Nacional de Capacitação e Educação para o Trabalho "Via de Acesso". Professor de diversos cursos e workshops no Brasil e no Exterior. Criou a Teoria Integração Relacional, na qual se baseiam suas consultas, workshops, palestras, livros e vídeos. Em pesquisa realizada em março de 2004, pelo IBOPE, entre os psicólogos do Conselho Federal de Psicologia, os entrevistados colocaram o Dr. Içami Tiba como terceiro autor de referência e admiração - o primeiro nacional.
1º- lugar: Sigmund Freud;
2º- lugar: Gustav Jung;
3º- lugar: Içami Tiba.

sábado, 4 de julho de 2009

Atenção para a Rematrícula

PERÍODO DE REMATRÍCULAS:

Já consta no calendário acadêmico : dias 06, 07, 08 e 13 de julho de 2009;

Imprimir 2 vias do requerimento e assinar (consta no portal);

Imprimir o boleto, pagar e tirar 2 cópias;

Entregar na Unidade I (ao lado do Ginásio): 2 vias do requerimento assinado e 2 cópias do boleto bancário pago.*

Horário: das 15 as 19 horas*

* As informações de local de entrega e horário são válidas apenas para o Polo Araras/SP

quarta-feira, 1 de julho de 2009

domingo, 28 de junho de 2009

Vencendo mais uma etapa

Aos que já chegaram - VALEU!
Aos que ainda falta um pouquinho - FORÇA!!!
A todos - A DIGNIDADE DOS QUE LUTAM - PARABÉNS!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

crédito de imagem: polemikos.com

quinta-feira, 25 de junho de 2009

Pai & Filho

...quando nos olharem, de onde quer que nos olhem, nos verão sempre pequenos. E quanto mais crescermos, mais eles terão razão...

paulo moreira
crédito de imagem: filipe silva - olhares.com - portugal

domingo, 21 de junho de 2009

Portfólio - Normas ABNT - Manual FAG 2008 - Urgente


Pessoal...
Ao revisar meu portfólio, percebi que o vinha fazendo em desacordo com as normas da ABNT, principalmente no que se refere ao espaçamento entre linhas. Acredito que o mesmo tenha acontecido com várias pessoas e, por essa razão, publico um trecho do Manual de Normas da FAG. O principal ítem é o espaçamento duplo (2) na introdução e desenvolvimento do texto. Na página 49 do manual da Fag (apêndice) consta o exemplo no espaçamento correto. Importante também a configuração de margens (superior e esquerda - 3cm / inferior e direita - 2 cm)

REGRAS GERAIS DE APRESENTAÇÃO

A apresentação de trabalhos acadêmicos deve ser elaborada conforme as seções 6.1 a 6.10.
6.1 FORMATO: Os textos devem ser apresentados em papel branco A4 (21 cm X 29,7 cm), digitados ou datilografados na cor preta, com exceção das ilustrações, no anverso das folhas, exceto na folha de rosto (ver 5.1.3). O projeto gráfico é de responsabilidade do autor do trabalho.
Recomenda - se para digitação, a utilização de fonte tamanho 12 para o texto e para os indicativos de seção, tamanho menor (10) para as citações de mais de três linhas, notas de roda pé, paginação e legenda das ilustrações, tabelas e gráficos. No caso de textos datilografados, para citações de mais de três linhas, deve - se observar apenas o recuo a 4 cm da margem esquerda.
6.2 MARGEM: As folhas devem apresentar margem esquerda e superior de 3 cm; direita e inferior de 2 cm.
6.3 ESPAÇAMENTO: Todo o texto deve ser digitado ou datilografado em espaço duplo (Ver figura 23 – Apêndice). As citações de mais de três linhas, as notas, as referências, as legendas das ilustrações, tabelas e gráficos, a ficha catalográfica, a natureza do trabalho, o objetivo, nome da instituição a que é submetida e a área de concentração devem ser digitados ou datilografados em espaço simples (1). As referências, ao final do trabalho, devem ser separadas entre si por um espaço duplo. Os títulos das subseções devem ser separados do texto que os precede ou que os sucede por um espaço duplo (Ver figura – Apêndice). Na folha de rosto e na folha de aprovação, a natureza do trabalho, o objetivo, o nome da instituição a que é submetida e a área de concentração devem ser alinhados do meio da página para a margem direita.
6.3.1 Notas de Rodapé: As notas devem ser digitadas ou datilografadas dentro das margens, ficando separadas do texto por um espaço simples (1) de entre linhas e por filete de 3 cm, a partir da margem esquerda.
6.3.2 Indicativos de Seção: O indicativo numérico de uma seção precede o seu título, alinhado a esquerda, separado por um espaço de caracteres.
6.3.3 Títulos sem indicativo numérico: Os títulos, sem indicativo numérico – errata, agradecimento, lista de ilustrações, lista de abreviaturas e siglas, lista de símbolos, resumos, sumário, referências, glossário, apêndice (s), anexo (s), e índice (s)–devem ser centralizados conforme a NBR 6024, ou seja, centralizados em caixa alta com negrito.
6.4 PAGINAÇÃO: Todas as folhas do trabalho, a partir da folha de rosto, devem ser contadas seqüencialmente, mas não numeradas. A numeração é colocada, a partir da primeira folha da parte textual, em algarismo arábicos, no canto superior direito da folha, a 2 cm da borda superior, ficando o último algarismo a 2 cm da borda direita da folha. No caso do trabalho ser constituído de mais de um volume, deve ser mantida uma única seqüência de numeração das folhas, do primeiro ao último volume. Havendo apêndice e anexo, as suas folhas devem ser numeradas de maneira continua e sua paginação deve dar seqüência à do texto principal.
6.5 NUMERAÇÃO PROGRESSIVA: Para evidenciar a sistematização do conteúdo do trabalho, deve–se adotar a numeração progressiva das seções do texto. Os títulos das seções primárias, por serem as principais divisões de um texto, devem iniciar em folha distinta (ver 6.3.2). Destacam-se gradativamente os títulos das seções, utilizando os recursos de negrito, itálico, ou grifo redondo, caixa alta ou versal, e outro, conforme a NBR 6024, no sumário e da forma idêntica, no texto.
6.6 CITAÇÕES: As citações devem ser apresentadas conforme a NBR 10520.
6.7 SIGLAS: Quando aparece pela primeira vez no texto, a forma completa do nome precede a sigla, colocada entre parênteses.
Ex. Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT).
6.8 EQUAÇÕES E FÓRMULAS: Aparecem destacadas no texto, de modo a facilitar sua leitura. Na seqüência normal do texto, é permitido o uso de uma entrelinha maior que comporte seus elementos (expoentes, índices e outros). Quando destacadas do parágrafo são centralizadas e, se necessário, deve – se numerá – las. Quando fragmentadas em mais de uma linha, por falta de espaço, devem ser interrompidas antes do sinal de igualdade ou depois dos sinais de adição, subtração, multiplicação e divisão.
Ex. x2 + y2= z2 (1)
(x2 + y2)/5 = n (2)
6.9 ILUSTRAÇÕES: Qualquer que seja o seu tipo (desenhos, esquemas, fluxogramas, fotografias, gráficos, mapas, organogramas, plantas, quadros, retratos e outros) sua identificação aparece na parte inferior, precedida da palavra designativa, seguida de seu numero de ordem de ocorrência no texto, em algarismos arábicos, do respectivo título e/ou legenda explicativa de forma breve e clara, dispensando consulta ao texto e da fonte. A ilustração deve ser inserida a mais próxima possível do trecho a que se refere, conforme o projeto gráfico.
6.10 TABELAS: As tabelas apresentam informações tratadas estatisticamente, conforme IBGE (1993).

crédito de imagem: internet

sexta-feira, 19 de junho de 2009

E, por falar em liderança...

MANDA QUEM PODE...OBEDECE QUEM TEM JUÍZO...


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Um chefe de departamento, bem chato, achando que seus subordinados não estavam mais respeitando sua liderança, resolveu colocar a seguinte placa na porta de seu escritório:
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"AQUI QUEM MANDA SOU EU!"
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Ao voltar de uma reunião, encontrou um bilhete junto à placa:
.
"SUA ESPOSA LIGOU E DISSE QUE É PARA O SENHOR LEVAR A PLACA DELA DE VOLTA".
***

crédito de imagem: http://www.rdnews.com.br/

terça-feira, 9 de junho de 2009

Sonhos Submersos

Que o desejo de ser grande não faça de nossos melhores sonhos, cidades submersas. Cobertos por imensos espelhos d'água eles estarão presentes dentro em nós - irreversivelmente mortos - até a eternidade.
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paulo moreira
crédito de imagem: www.sobradinhobahia.com - rio são francisco -represa de sobradinho - acervo da chesf

domingo, 31 de maio de 2009

Quando os Sonhos se Tornam Impossíveis

O amor e a paixão são números primos. Seu único valor
par aceitável é 2 para ser verdadeiro. Ou divide-se por si mesmo
e resulta numa unidade; ou se divide por 1 – quando permanece
e se fecha em si próprio – para em nada mais resultar.
Quando diferente de 2, torna-se uma infeliz seqüência
que não se resolverá nunca.
Em qualquer hipótese, para que os pares permaneçam íntegros,
deverão ter a magia de ser o único divisor, apenas dois
– seu mínimo. Desta forma, e somente assim, serão inteiros. Maravilhosamente
pares e... ímpares.
São assim ou deixam apenas restos; perdendo-se nas dízimas
da solidão.
texto: paulo moreira
crédito de imagem: photoforum - rússia

Como explicar isto?

Eu não entendo muitas vezes como papéis e informações caem na minha mão, ese texto apareceu em minha mesa na Clínica, engraçado que ninguém sabe quem o colocou lá... Importante que gostei do texto e estou repassando pra vocês.

Os Quatro Princípios básicos para uma vida bem sucedida
1 Estar de bem com Deus
2 Viver pela fé para ser digno das bençãos de Deus
3 Honestidade
4 Ter um voto de aprender constantemente
Analisando-os em separado
O cristão que não está bem com Deus abre sua vida para os espíritos malígnos e logicamente, essa vulnerabiliddae será utilizada por eles para atrapalhá-lo em todos os sentidos.
O empresário cristão não pode deixar de lado sua comunhão pessoal com Deus. Ele é fundamental o que deve ser colocado como prioridade para o crescimento da vida empresarial. O equilíbrio na dicotomia, vida empresarial e vida espiritual não pode ser esquecido em hipótese alguma. Pense, se você está mal com Deus, agindo em desacordo com Sua palavra, tomando atitudes puramente racionais ou institivas, em vez de espirituais, como poderá ser um empresário bem sucedido?
Quando afirmamos que é preciso viver pela fé, para ser digno de bençãos, não estamos nos referindo no "psudo-fé" caracterizada pelas emoções, desenvolvida pelo aguçar dos sentimentos. Também não estou falando de fé mental, imaginária e infrutífera. Muito menos de fé natural, que se desenvolve no ser humano no decurso de anos, pela informações recebidas na escola, em casa, natelevisão, no rádio e em tudo o que produza conhecimento e experiência. A fé natural em síntese é "o resultado do aprendizado e das experiencia vividas pelo homem".
autor desconhecido

domingo, 24 de maio de 2009

Estratégia Americana

O sujeito é americano e se chama Marc Faber. Ele é Analista de Investimentos e empresário. Em junho de 2008, quando o Governo Bush estudava lançar um projeto de ajuda à economia americana, ele encerrava seu boletim mensal com um comentário bem-humorado, não fosse trágico...
"O Governo Federal está concedendo a cada um de nós uma bolsa de U$600,00.
Se gastarmos esse dinheiro no supermercado Wall-Mart, esse dinheiro vai para a China.
Se gastarmos com gasolina, vai para os árabes.
Se comprarmos um computador, vai para a Índia.
Se comprarmos frutas e vegetais, irá para o México, Honduras eGuatemala.
Se comprarmos um bom carro, irá para a Alemanha ou Japão.
Se comprarmos bugigangas, irá para Taiwan...
E nenhum centavo desse dinheiro ajudará a economia americana. O único meio de manter esse dinheiro na América é gastá-lo com prostitutas e cerveja, considerando que são os únicos bens ainda produzidos por aqui.
Estou fazendo a minha parte..."
Comentário de um brasileiro igualmente bem humorado:
Realmente a situação dos americanos parece cada vez pior. Depois da compra da Budweiser pela AmBev (meio belga, meio brasileira), restaram apenas as prostitutas. Porém, se elas (as prostitutas) repassarem parte da verba para seus filhos, a maior parte dessa grana irá para Brasília.
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texto: autor desconhecido
imagem: photoforum - rússia

terça-feira, 19 de maio de 2009

Pessoas, Passarinhos e Anjos

Existem duas maneiras de podermos ouvir o canto de um pássaro todos os dias, o tempo todo:
Uma é ter árvores, flores, plantas diversas ao redor de nossa casa. É vibrar com a lenta aproximação da luz e dos piados tímidos que anunciam a chegada do novo dia, evoluindo para uma algazarra que festeja a vida e a liberdade. Sorrir por, talvez, não possuirmos um lugar assim mas, sermos agraciados com a visão de seu voo livre e, mesmo ao longe, poder ouvir seu trinado. Ter a consciência que Um Ser Maior enviou "chaveirinhos" de anjos para nos alegrar o espírito. Alegria de amar por amar e nada mais.
A outra consiste em invadirmos algum lugar assim e, sordidamente, prepararmos armadilhas para que o ingênuo passarinho caia numa delas. Ou, quem sabe, numa inequívoca demonstração de poder, já o compremos escravo. A alegação é amar o bichinho; proteger-lhe dos predadores ou fazer supor que, uma vez escravo, em liberdade seria uma inútil vítima nas mãos de outros piores que nós mesmos. E ainda mais egoístas. Prova de amor é ter um canto só para si. Em troca, algum alimento. Ora, por favor...
Se lhe furarmos os olhos, é provável que seu canto torne-se ainda melhor aos nossos "apurados" ouvidos. Sim, os melhores cantos são os cantos da tristeza sem fim, da dor que apunhala e do desespero sombrio. A música que mais fundo deveria tocar a alma é suave doçura aos ouvidos dos que nem a própria consciência escutam. Dar fio à lâmina do egoísmo. Aviltar uma criaturinha cujo mal maior foi ter nascido para voar, cantar e ensinar a felicidade de ser livre.
É o não amar.
Na primeira hipótese, teremos o gorjeio alegre daquele que nos visita diariamente com o intuito de ter a certeza do alimento e da paz. Daquele que nos dá seu melhor trinado como brinde a um querer bem infinito. O presente sem preço de sua graça e agilidade. Um bilhete de Deus, transcrito em notas musicais e movimentos de asinhas de minúsculos grandes anjos.
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Existem duas maneiras de podermos ouvir o canto de um coração todos os dias, o tempo todo:
Uma é ter amor, plantar sorrisos, alegrias e esperança dentro de alguém. Sorrir por cultivar a compreensão; por tentar tornar esse coração mais pleno; feliz por poder amar sem ser dono de absolutamente nada e, paradoxalmente, possuir tudo. Uma eterna criança, desprovida de qualquer maldade, brincando com seu trabalho e todos que o cercam. Emocionar-se ao sentir a felicidade das inocências. Poder entregar seu corpo e seu ser com a mesma espontaneidade e a alegria com que recebe; como o melhor presente do mundo.
A outra é, tal qual as armadilhas da mata, criar vínculos que surgem da carência de amor. Usar a sedução advinda da facilidade de criar ilusões em corações menos previdentes e, com ela, construir as gaiolas da dependência; as prisões da necessidade de carinho. Manipular a paixão como ferramenta de domínio e a mínima atenção como migalhas de uma arapuca. Fazer com que a sede de amar e ser amado seja o eterno cativeiro do outro.
Furar os olhos dos sentimentos de alguém para ouvir o canto lamento que sai das suas imaginárias cordas vocais, nas notas de suas atitudes cegas. Feliz pela certeza de que a canção do pássaro na gaiola ecoa agora dentro de um coração humano. Exigir a música triste das notas de um piano perfeito, tocada por mãos mutiladas pelo desencanto de tanto acenar adeus. Deixar as cicatrizes do desencanto tomarem conta do rosto - um dia tão lindo - de quem apenas quis ser feliz. Provocar, pela inconsequência, o passeio daquele que só queria voar e cantar para a vida, pelos arcabouços do próprio pensamento - embotado pelas culpas do que não produziu sozinho. Pretender ser hoje o guia seguro que deveria ter sido no passado e ter a ousadia de chamar isso de amor. Confundir compaixão com a manutenção da cela limpa.
Na primeira alternativa, teremos o mundo de mãos dadas. O prazer pela vida estampado nas pessoas. O verdadeiro querer bem dos olhares sinceros e da segurança que advém de nos sabermos queridos e de lutarmos por isso. Optar pelos caminhos que quisermos percorrer juntos e os horizontes que vierem, serem sempre bem vindos. Amar verdadeiramente e sem máscaras ou limites. Lembrar sempre que grades comuns não conseguem deter os anjos.
Abrir a janela e enxergar um beija-flor seduzindo sem cerimônias a nossa flor, sem saber quem é o imitador: nós ou ele. Mais um bilhetinho.
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texto: paulo moreira
imagem: internet