Entre uma escola e outra, no meio do caminho, vinha a professora com um repentino e “esquisistranho” pensamento que, feito um pernilongo, começou a incomodar.
Não era supersticiosa, mas passar debaixo daquela escada do pintor no pátio no exato momento em que ele concluía uma letra Z no novo letreiro da escola, não a deixou bem.
- Ah! Bobagem, superstição!
Continuou em seu raciocínio. Semana que vem chegaria 11 de setembro e onze é um número esquisito. Onze é número primo. Não. Pensando bem, onze é um número gêmeo. Número primo é um que só se divide por 1 e por ele mesmo e o onze é assim, mas ele é parente mais próximo que um simples primo. Só pode ser gêmeo e, ainda por cima, daqueles univitelinos. Deve dar azar também, porque foi no dia 11 de setembro aquele caso das torres gêmeas. Número infeliz. Tipo do numerozinho egoísta que só se divide a “sipóprio” e, quando se divide, ao invés de restos - deixa escombros. Não se lembrava direito se aquele número era racional, natural, inteiro (inteiro não podia ser) e acabou, apesar da vaga lembrança das aulas de matemática, com uma conclusão brilhante:
- 11 é um número gêmeo, que não se divide por nada, exceto por boeings; faz parte do conjunto dos números irracionais, impossíveis e inacreditáveis, muito bem representado por “iih” (iih! Deu errado de novo!).
Precisava parar de pensar aquelas bobagens. Estava parecendo pesadelo de véspera de prova na faculdade. Tentou lembrar se suas provas caiam sempre no dia 11 e, quanto mais procurava lembrar, mais o dia 11 se fazia presente. Chegou a se convencer que se casara num dia 11 e questionou-se se não era novembro – 11/11 – Deus livre e guarde!
- Ah! Bobagem, superstição!
Afastou seus pensamentos como quem afasta pernilongos e, depois do primeiro tapa na orelha, já nem se recordava de mais nada. Continuou seu caminho, chegando à escola para mais uma jornada. Feliz com seus aluninhos, ouviu o sinal do intervalo e dirigiu-se para a sala dos professores para seu merecido cafezinho e descanso. Hora também de ligar para o marido para a atualização de broncas do dia anterior “Parte II” (a Parte I era sempre no horário do almoço). Sorriu, divertida, com a idéia de que, se o cachorro é o melhor amigo do homem, o da mulher é o celular. Ao abrir a bolsa, qual não foi a surpresa: alguém abrira sua bolsa e levara seu fiel amiguinho - Totó Nokia.
Frio na espinha, arrepio, tremedeira. Sem se dar conta ainda por completo da situação, lembrou-se de uma coisa que sempre dava certo nessas horas:
- São Longuinho, São Longuinho, se encontrar meu celular dou 3 pulinhos! Dou 30; 3 é muito pouco. Desculpa São Longuinho, sei que o celular vale mais... tá bom... 300 pulinhos!
Mas, dia útil e horário de trabalho, São Longuinho podia estar muito ocupado e, por via das dúvidas, o melhor era sair perguntando se alguém o vira. De imediato notou que o melhor amigo do homem pode ser mais rústico, mas basta chamar pelo nome, que aparece. Percebeu então sua genialidade. Correu para a secretaria e pediu que ligassem para o Totó. Ao ser questionada sobre o número, verificou que, desde há muito, esquecera o número. Procura daqui, procura dali, achou uma amiga que ligava sempre e forneceu de imediato. Suspense... a idéia não podia falhar. Sorriu quando atenderam. Mas, descobriu que a felicidade é algo muito transitório e fugaz quando aquela sensual voz feminina disse:
- Claro informa: o número discado está desligado ou fora de área. Deixe seu recado na caixa postal... A Claro agradece, é Claro!
- Claro! Claro! Claro que quem levou o Totó não iria atendê-lo. Meu Deus, como sou Tonha. Tenho mais uma alternativa: a Diretora. Pensamento feito, pensamento executado. E a diretora:
- Tem certeza que estava mesmo em sua bolsa? Não o esqueceu em casa?
- Claro! Sem trocadilho diretora, tenho certeza. Antes de começar minhas aulas xinguei meu marido por telefone, inclusive fiquei nervosa porque no meio da bronca ele começou a imitar toque de ocupado: “pim – pim – pim... seu amorzinho tá fora de área, depois a gente se fala”. Tem hora que ele é tão bobo...
A diretora não teve dúvidas e falou bem alto:
- VAMOS FAZER UM BOLETIM DE OCORRÊNCIA! AVISA PARA A PORTARIA QUE NINGUÉM ENTRA OU SAI SEM AUTORIZAÇÃO. AVISA TAMBÉM QUE ELE SÓ DEVE ABRIR EXCEÇÃO PARA A VIATURA POLICIAL. Portaria sempre é bom dar a ordem bem explicadinha... Vamos ligar para a polícia.
Ordem dada, ordem cumprida. Ninguém entrou nem saiu. Só o policial. Tudo registrado, tudo documentado, tudo esclarecido e explicado. Só o Totó Nokia permanecia desaparecido.
Enquanto isso, nossa triste professorinha continuava sua aula, já sem muita animação, embora firme na sua tarefa. Pensava com seus botões:
- Eu tinha certeza. Minhas premonições não falham e sou capaz de apostar que no dia 7 de setembro, vou ter que desfilar debaixo de chuva. Número 7 é tão esquisito quanto o 11. É um número meio místico e, com a sorte que estou, é capaz de bem no meio do desfile e do Hino da Independência - o que abra as asas sobre mim - seja algum teco-teco perdido por causa da chuva. Droga, todo 7 de setembro chove...
- Ah! Bobagem, superstição!
Só que tremeu, ao lembrar-se de uma advertência do marido:
- Dar bronca em quem se ama, depois do almoço, dá indigestão. É mais perigoso que tomar banho de barriga cheia ou cafuné depois do almoço. Dá um azar danado!
Seria praga? Praga de marido pega mais forte que o de mãe. Rogou à Nossa Senhora do Patrocínio uma ajuda, mas parecia que a situação tivera o patrocínio da Claro mesmo. Antes eles sumiam só com o sinal; agora, parece que resolveram sair da abstração da linha e ir direto ao assunto. Imaginou ter ouvido uma voz do além dizendo que acharia logo o bem que lhe houvera sido subtraído.
- Ah! Bobagem, superstição!
Não demorou meia hora, chega uma aluna com o aparelhinho na mão:
- Achei fessora, achei.
E a menina havia mesmo encontrado, debaixo de uma pedra, num buraco pelo canto da escola.
Dessa forma, todos continuaram felizes para sempre.
A professora não esqueceu de ligar para o marido:
- Amor, levaram meu celular, mas já o encontrei. Só liguei pra dizer que te amo mais do que nunca e prometo te dizer isso todo dia na hora do almoço.
A diretora feliz por ter, a seu ver, resolvido a situação. Apenas achou engraçado ver a professora pulando com as crianças e dizendo para continuar a brincadeira do canguru que pula 300 vezes. “En passant”, falou para a professora:
- Você teve sorte de reencontrar seu celular.
Não era supersticiosa, mas passar debaixo daquela escada do pintor no pátio no exato momento em que ele concluía uma letra Z no novo letreiro da escola, não a deixou bem.
- Ah! Bobagem, superstição!
Continuou em seu raciocínio. Semana que vem chegaria 11 de setembro e onze é um número esquisito. Onze é número primo. Não. Pensando bem, onze é um número gêmeo. Número primo é um que só se divide por 1 e por ele mesmo e o onze é assim, mas ele é parente mais próximo que um simples primo. Só pode ser gêmeo e, ainda por cima, daqueles univitelinos. Deve dar azar também, porque foi no dia 11 de setembro aquele caso das torres gêmeas. Número infeliz. Tipo do numerozinho egoísta que só se divide a “sipóprio” e, quando se divide, ao invés de restos - deixa escombros. Não se lembrava direito se aquele número era racional, natural, inteiro (inteiro não podia ser) e acabou, apesar da vaga lembrança das aulas de matemática, com uma conclusão brilhante:
- 11 é um número gêmeo, que não se divide por nada, exceto por boeings; faz parte do conjunto dos números irracionais, impossíveis e inacreditáveis, muito bem representado por “iih” (iih! Deu errado de novo!).
Precisava parar de pensar aquelas bobagens. Estava parecendo pesadelo de véspera de prova na faculdade. Tentou lembrar se suas provas caiam sempre no dia 11 e, quanto mais procurava lembrar, mais o dia 11 se fazia presente. Chegou a se convencer que se casara num dia 11 e questionou-se se não era novembro – 11/11 – Deus livre e guarde!
- Ah! Bobagem, superstição!
Afastou seus pensamentos como quem afasta pernilongos e, depois do primeiro tapa na orelha, já nem se recordava de mais nada. Continuou seu caminho, chegando à escola para mais uma jornada. Feliz com seus aluninhos, ouviu o sinal do intervalo e dirigiu-se para a sala dos professores para seu merecido cafezinho e descanso. Hora também de ligar para o marido para a atualização de broncas do dia anterior “Parte II” (a Parte I era sempre no horário do almoço). Sorriu, divertida, com a idéia de que, se o cachorro é o melhor amigo do homem, o da mulher é o celular. Ao abrir a bolsa, qual não foi a surpresa: alguém abrira sua bolsa e levara seu fiel amiguinho - Totó Nokia.
Frio na espinha, arrepio, tremedeira. Sem se dar conta ainda por completo da situação, lembrou-se de uma coisa que sempre dava certo nessas horas:
- São Longuinho, São Longuinho, se encontrar meu celular dou 3 pulinhos! Dou 30; 3 é muito pouco. Desculpa São Longuinho, sei que o celular vale mais... tá bom... 300 pulinhos!
Mas, dia útil e horário de trabalho, São Longuinho podia estar muito ocupado e, por via das dúvidas, o melhor era sair perguntando se alguém o vira. De imediato notou que o melhor amigo do homem pode ser mais rústico, mas basta chamar pelo nome, que aparece. Percebeu então sua genialidade. Correu para a secretaria e pediu que ligassem para o Totó. Ao ser questionada sobre o número, verificou que, desde há muito, esquecera o número. Procura daqui, procura dali, achou uma amiga que ligava sempre e forneceu de imediato. Suspense... a idéia não podia falhar. Sorriu quando atenderam. Mas, descobriu que a felicidade é algo muito transitório e fugaz quando aquela sensual voz feminina disse:
- Claro informa: o número discado está desligado ou fora de área. Deixe seu recado na caixa postal... A Claro agradece, é Claro!
- Claro! Claro! Claro que quem levou o Totó não iria atendê-lo. Meu Deus, como sou Tonha. Tenho mais uma alternativa: a Diretora. Pensamento feito, pensamento executado. E a diretora:
- Tem certeza que estava mesmo em sua bolsa? Não o esqueceu em casa?
- Claro! Sem trocadilho diretora, tenho certeza. Antes de começar minhas aulas xinguei meu marido por telefone, inclusive fiquei nervosa porque no meio da bronca ele começou a imitar toque de ocupado: “pim – pim – pim... seu amorzinho tá fora de área, depois a gente se fala”. Tem hora que ele é tão bobo...
A diretora não teve dúvidas e falou bem alto:
- VAMOS FAZER UM BOLETIM DE OCORRÊNCIA! AVISA PARA A PORTARIA QUE NINGUÉM ENTRA OU SAI SEM AUTORIZAÇÃO. AVISA TAMBÉM QUE ELE SÓ DEVE ABRIR EXCEÇÃO PARA A VIATURA POLICIAL. Portaria sempre é bom dar a ordem bem explicadinha... Vamos ligar para a polícia.
Ordem dada, ordem cumprida. Ninguém entrou nem saiu. Só o policial. Tudo registrado, tudo documentado, tudo esclarecido e explicado. Só o Totó Nokia permanecia desaparecido.
Enquanto isso, nossa triste professorinha continuava sua aula, já sem muita animação, embora firme na sua tarefa. Pensava com seus botões:
- Eu tinha certeza. Minhas premonições não falham e sou capaz de apostar que no dia 7 de setembro, vou ter que desfilar debaixo de chuva. Número 7 é tão esquisito quanto o 11. É um número meio místico e, com a sorte que estou, é capaz de bem no meio do desfile e do Hino da Independência - o que abra as asas sobre mim - seja algum teco-teco perdido por causa da chuva. Droga, todo 7 de setembro chove...
- Ah! Bobagem, superstição!
Só que tremeu, ao lembrar-se de uma advertência do marido:
- Dar bronca em quem se ama, depois do almoço, dá indigestão. É mais perigoso que tomar banho de barriga cheia ou cafuné depois do almoço. Dá um azar danado!
Seria praga? Praga de marido pega mais forte que o de mãe. Rogou à Nossa Senhora do Patrocínio uma ajuda, mas parecia que a situação tivera o patrocínio da Claro mesmo. Antes eles sumiam só com o sinal; agora, parece que resolveram sair da abstração da linha e ir direto ao assunto. Imaginou ter ouvido uma voz do além dizendo que acharia logo o bem que lhe houvera sido subtraído.
- Ah! Bobagem, superstição!
Não demorou meia hora, chega uma aluna com o aparelhinho na mão:
- Achei fessora, achei.
E a menina havia mesmo encontrado, debaixo de uma pedra, num buraco pelo canto da escola.
Dessa forma, todos continuaram felizes para sempre.
A professora não esqueceu de ligar para o marido:
- Amor, levaram meu celular, mas já o encontrei. Só liguei pra dizer que te amo mais do que nunca e prometo te dizer isso todo dia na hora do almoço.
A diretora feliz por ter, a seu ver, resolvido a situação. Apenas achou engraçado ver a professora pulando com as crianças e dizendo para continuar a brincadeira do canguru que pula 300 vezes. “En passant”, falou para a professora:
- Você teve sorte de reencontrar seu celular.
Riu divertida, e emendou brincando:
- Pensei até em fazer alguma simpatia a seu favor... Parece coisa do Saci-Pererê. Você acredita nessas coisas?
Ouviu daquela mocinha toda segura de si:
- Ah! Bobagem, superstição!
Ouviu daquela mocinha toda segura de si:
- Ah! Bobagem, superstição!
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texto: paulo moreira
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