Caminhava pela praia, a mente ia e vinha como que acompanhando o ritmo das ondas. Aqueles quadris eram assim: por vezes, mar agitado e ansioso, terminando sempre por uma explosão incontrolável – água encontrando as pedras – corpos explodindo amor; d’outras, calmo e compassado, imitando um berço imaginário, balouçando-se até encontrar repouso no sono.
Lembrava daquele alguém com o desespero dos sem razão e gritou ao mar aquele nome, pedindo ao vento levasse os sonhos e sons até o limite do horizonte, mil vezes. Até enrouquecer e quase enlouquecer.
Imaginava aquele amor à semelhança do oceano. Pela imensidão incalculável de tanto mar profundo; por tanto e profundo amar. E pediu a todos os deuses possíveis e impossíveis aquele amor de volta, rogando a si, o mesmo milagre do refluxo das águas inquietas.
Viu-se naqueles braços novamente e mais uma vez a sensação de estar inundado daquele alguém, como sempre, a quase afogar-se em seus próprios uivos misturados como salivas e secreções.
Olhou o céu e as estrelas e comparou-as à mesma aura que iluminava o quarto em cada mágica do amor. Do prazer cintilante e do suave brilho dos olhos cor de lua cheia, na tranqüilidade do sereno carinho após unhas cravadas, firmes ataques e armadilhas, luta e suor – que culminavam no quase desmaio feliz dos que venceram juntos a mesma doce batalha. Dos momentos em que faziam-se cúmplices contra as mesmas tempestades. Estava agora em total nulidade. Naufragara. Havia perdido sua embarcação, bússola e alimento. Junto a eles, sonhos, esperanças, razão de viver. Fora-se o tempo.
Imaginou as conchas e teve a lembrança dos dois dormindo em forma de. Lembrou-se das mãos que tomaram forma de concha em seu jeito de afagar e esboçou um sorriso. Quais seios, no mar, moldariam as conchas? Conchas no ouvido, revelam os suspiros e segredos do mar.
Uma lágrima escorreu até sua boca e sentiu aquele gosto salgado de pele. Não. Aquele corpo não era salgado. Era um agridoce único ao qual seu paladar se acostumara. Mar e amor não se explica o paladar, pensou. Lembrou das bocas milhares em que procurou, alucinado, aquele gosto e mortificou-se por ter, em tantos corpos, imaginado-se sempre estar amando aquele mesmo. Entre tantos gritos, ter ouvido a mesma voz. Entre estar vivo e ter morrido tantas vezes.
Reviveu os momentos em que, anos atrás, pensou todas as mesmas coisas e pediu a Deus; aos senhores e senhoras dos oceanos - com desespero, com angústia – a volta daquele ser amado. De espírito despido e inocente, suplicou como o mais desvalido dos mortais. Foi atendido.
Sabia que o mar devolvera-lhe o que julgava perdido. E viveu anos de ilusão, pensando estar feliz ao lado daquela mesma pessoa. Para um dia mais tarde, descobrir-se não amado e quem estava ao seu lado poderia ser uma pedra, um galho, uma gaivota morta na areia. Seria indiferente. Seu espírito virou lamento mudo.
Tinha consciência que tudo que as águas engolem, devolvem. Mas os seres vivos, devolve-os apenas corpos, carcaças. Tivera de volta, o corpo frio e rígido de seu amor, assim como cada gesto e atitude. Percebia, na rotina do dia-a-dia, que a essência havia se perdido. Os carinhos, os sorrisos, a cumplicidade, os filhos jamais vieram ou foram os mesmos. O oceano houvera entregado muito pouco do que levara. Nada e nunca voltaram a ter a mesma alma, percebeu.
Insano, continuou caminhando mar adentro. Agora iria, finalmente ao encontro daquele ser amado. Encontraria na escuridão das águas profundas a essência daquela alma e a ela se juntaria para sempre, como sempre lamentou ter sonhado.
E caminhou, caminhou. Rumo ao horizonte das águas e seu reino. Para não mais precisar caminhar.
Lembrava daquele alguém com o desespero dos sem razão e gritou ao mar aquele nome, pedindo ao vento levasse os sonhos e sons até o limite do horizonte, mil vezes. Até enrouquecer e quase enlouquecer.
Imaginava aquele amor à semelhança do oceano. Pela imensidão incalculável de tanto mar profundo; por tanto e profundo amar. E pediu a todos os deuses possíveis e impossíveis aquele amor de volta, rogando a si, o mesmo milagre do refluxo das águas inquietas.
Viu-se naqueles braços novamente e mais uma vez a sensação de estar inundado daquele alguém, como sempre, a quase afogar-se em seus próprios uivos misturados como salivas e secreções.
Olhou o céu e as estrelas e comparou-as à mesma aura que iluminava o quarto em cada mágica do amor. Do prazer cintilante e do suave brilho dos olhos cor de lua cheia, na tranqüilidade do sereno carinho após unhas cravadas, firmes ataques e armadilhas, luta e suor – que culminavam no quase desmaio feliz dos que venceram juntos a mesma doce batalha. Dos momentos em que faziam-se cúmplices contra as mesmas tempestades. Estava agora em total nulidade. Naufragara. Havia perdido sua embarcação, bússola e alimento. Junto a eles, sonhos, esperanças, razão de viver. Fora-se o tempo.
Imaginou as conchas e teve a lembrança dos dois dormindo em forma de. Lembrou-se das mãos que tomaram forma de concha em seu jeito de afagar e esboçou um sorriso. Quais seios, no mar, moldariam as conchas? Conchas no ouvido, revelam os suspiros e segredos do mar.
Uma lágrima escorreu até sua boca e sentiu aquele gosto salgado de pele. Não. Aquele corpo não era salgado. Era um agridoce único ao qual seu paladar se acostumara. Mar e amor não se explica o paladar, pensou. Lembrou das bocas milhares em que procurou, alucinado, aquele gosto e mortificou-se por ter, em tantos corpos, imaginado-se sempre estar amando aquele mesmo. Entre tantos gritos, ter ouvido a mesma voz. Entre estar vivo e ter morrido tantas vezes.
Reviveu os momentos em que, anos atrás, pensou todas as mesmas coisas e pediu a Deus; aos senhores e senhoras dos oceanos - com desespero, com angústia – a volta daquele ser amado. De espírito despido e inocente, suplicou como o mais desvalido dos mortais. Foi atendido.
Sabia que o mar devolvera-lhe o que julgava perdido. E viveu anos de ilusão, pensando estar feliz ao lado daquela mesma pessoa. Para um dia mais tarde, descobrir-se não amado e quem estava ao seu lado poderia ser uma pedra, um galho, uma gaivota morta na areia. Seria indiferente. Seu espírito virou lamento mudo.
Tinha consciência que tudo que as águas engolem, devolvem. Mas os seres vivos, devolve-os apenas corpos, carcaças. Tivera de volta, o corpo frio e rígido de seu amor, assim como cada gesto e atitude. Percebia, na rotina do dia-a-dia, que a essência havia se perdido. Os carinhos, os sorrisos, a cumplicidade, os filhos jamais vieram ou foram os mesmos. O oceano houvera entregado muito pouco do que levara. Nada e nunca voltaram a ter a mesma alma, percebeu.
Insano, continuou caminhando mar adentro. Agora iria, finalmente ao encontro daquele ser amado. Encontraria na escuridão das águas profundas a essência daquela alma e a ela se juntaria para sempre, como sempre lamentou ter sonhado.
E caminhou, caminhou. Rumo ao horizonte das águas e seu reino. Para não mais precisar caminhar.
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texto: paulo moreira
imagem: olhares.com - portugal
Um comentário:
Seu blog é realmente muito bom.
É a evidente comprovação que muita coisa boa, existe.
Voltarei sempre .
É com gente como você que nós vamos aprendendo, cada dia um pouquinho mais.
Na oportunidade estou lhe convidando para conhecer também, meu blog :HUMOR EM TEXTO.
É de humor e de ...graça!!! (rs)
Um abração carioca.
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