- Cara, não é possível! Ela está nos tratando como se fôssemos a turma do prezinho... Não pode estar falando de matemática financeira! Está nos tratando feito crianças. Estou me sentindo um retardadinho.
E ela continuou sua primeira aula contando das coisas mais primárias da matemática, de filósofos, de coisas aparentemente fora do mundo. Não aguentei e disse, cheio de ironia, ao professor local:
- Tio Valdir, acho que "suzei a faldinha".
O Valdir riu e, aos poucos, toda a petizada estava bem quietinha, prestando atenção na moça divertida dos números. Desta vez, falei para o Luciano:
- Acho que somos a Turma do Balão Trágico!
Era incrível. Ela parecia uma mistura de Noviça Rebelde com um tempero de mãe compreensiva e menina colega; talvez uma personagem do teatro das calculadoras encantadas. Tudo junto. Terminada a primeira aula, lá fora trocávamos idéias e impressões e a Zaia foi muito feliz quando obtemperou:
- Diga o que quiser, mas que todo mundo ficou prestando a atenção o tempo todo, ficou! Ela conseguiu o que queria.
Na segunda aula, percebemos que já havíamos crescido um pouco mais (pior, ela deixava isso muito claro) e já ousava dizer de números um pouco mais complicadinhos, segundo nossa concepção. Em cada resposta, o cuidado de um sorriso que acolhe. O bom humor e uma inteligência afiadíssima, pouco a pouco nos conquistando naquele jeitinho de conduzir sua aula. Agora, já levando nosso raciocínio para o rumo que quisesse.
E nos ensinou que o monstro dos números não era tão feio e forte como parecia em nossos piores pesadelos. Embalou nossas aulas, tirando o medo dos juros acumulados e agiotas papões.
Fez, com um carisma de poucos, nos sentirmos seguros numa viagem, agora, com números mais vivos, mais coloridos - menos ameaçadores. Conseguiu que muitos dessem o dedinho com a matemática, para tentar fazer as pazes.
No esforço de se fazer entender, de querer ensinar bem, não mostrou-se a "star" dos números, mais parecendo, por vezes, aquelas mocinhas estudiosas e sonhadoras das periferias. Mostrou-se uma professora simples, cujo maior objetivo é o de conquistar seus alunos e fazê-los aprender. Com a graça e a magia das madrinhas legais. O pessoal de todos os polos e idades sabe muito bem que estamos falando de alguém que faz números parecerem playgrounds.
Todo aluno é sempre uma alma de criança e ela entende e lida com isso muito bem. Uma das melhores professoras que conheci.
Parabéns, 'fessora Ivonete! Não fosse Campo Grande tão longe, te entregaria uma maçã bem vermelhinha. Cuidadosamente lustrada!
.
texto: paulo moreira
imagem: olhares.com - portugal
Nenhum comentário:
Postar um comentário