sexta-feira, 24 de abril de 2009

Mudanças

Imagine estar olhando um planeta que, em certo momento, começa a entrar num processo de autodestruição com movimentos semelhantes a uma convulsão, até que numa enorme explosão, seus pedaços se espalhem pelo espaço.
Imagine agora a sua vida; o seu universo. Tente enxergá-la como um planeta. Veja os rios cristalinos correndo em suas veias e os oceanos cheios de vida que te pertencem. Perceba em si seus vales e montanhas cobertos de flores e árvores. Animais correndo livres entre suas planícies, cujo gado pasta tranqüilo sob o sol que te banha pela manhã. Olhe o lago tranquilo da tua paz repleto de peixinhos coloridos. Veja as cidades que você construiu em si; os edifícios de seus planos, a luz do seu trabalho e as obras do seu amor. Sua família, seus amigos. Imagine esse planeta que é você.
Só que nós não somos estáticos, assim como os planetas não o são. Queremos e precisamos mais. O tempo todo vamos modificando as nossas paisagens. Melhoramos algumas, construímos outras e os erros cometidos por nós ou por outros, acabam poluindo nosso pensar, criando guerras íntimas, matando paisagens de sonhos e desmatando nossos sentimentos. Por vezes, quase chegando a nos transformar em completos desertos.
Com todos os problemas que vivemos e apesar deles, sentimo-nos seguros nesse nosso mundinho. Por essa razão, vamos mantendo tudo que o compõe, porque seja como for é a nossa casa e refúgio. É nesse planeta chamado Nós Mesmos que nos sentimos assim, pois afinal, conhecemos cada detalhe dele. Independente de enxergarmos, certas coisas em nós precisam ser mudadas e algumas extirpadas. É o interminável espaço de tempo que antecede o novo. É quando chega a época dos terremotos da alma e tudo para nós entra em colapso.
Nada funciona. O amor não vem ou se desfaz. As crises financeiras se sucedem e vêm: a depressão, as doenças, o dar adeus a seres queridos, o contínuo perder e perder. Em todos os sentidos. Chegamos por vezes, à beira do desespero, senão nele.
Em meio a todo esse caos, fica difícil notar que tudo isso é pela simples razão de haver chegado o momento de mudar. E que nem sempre essa mudança será determinada por nós ou sob nosso controle megalomaníaco. Quase impossível aceitar.
O universo é energia e movimento, com suas próprias regras, e tem uma ordenação que nossa condição de planetinhas não nos permite sempre entender. A um pensamento de Deus, o universo vibra. Por isso tudo muda.
O pinto precisa romper o ovo para vir à vida. O feto precisa ser expulso de seu lugar quente e seguro; e a planta só cresce quando rompe a terra. As grandes crises no mundo surgiram sempre em que foi preciso mudar. Civilizações inteiras tornaram-se pó. A inacreditável queda do Império Romano aconteceu e problemas menores afetaram o mundo.
Em tempos modernos, acredito que seria o momento de lembrarmos, por exemplo, que a grande depressão dos anos 30 não se resolveu através de aviões americanos pulverizando fluoxetina sobre a Terra. Pode parecer engraçado, mas estou querendo dizer que tudo chega a um ponto que explode e se reordena por si mesmo.
Imagine, por fim, que é chegada a hora de um ser humano explodir e se fragmentar em pedaços, tal qual aquele planeta que falamos.
Os braços do Criador, assim como deram outro destino aos fragmentos daquele planeta, voltam-se para nós e repetem o que acontece em absolutamente tudo no universo.
Novas e velhas peças voltam a se encaixar com uma precisão que impressiona. Tudo passa a fluir e gerar coisas boas. Vem o amor, novos jardins se formam e os velhos rebrotam. A água pura e cristalina volta a fluir nos rios. Nossos oceanos recomeçam seu movimento das marés. Os animais correm soltos e os frutos retomam seu mel sabor. Gaiolas se desfazem e os pássaros de nossa imaginação voam livres na imensidão do céu. Estamos prontos para ressurgir em nossa galáxia, talvez até mesmo na condição de estrelas.
Percebemos enfim que, mesmo querendo, a família Robinson não conseguiu retornar à Terra, embora tenha lutado tanto para isso. Eles continuam viajando sempre e sempre. Jamais irão voltar. Não teria sentido.
Na verdade, sentimos medo dos alienígenas que podemos encontrar nesses novos rumos com que a vida está nos presenteando. Demoramos para nos conscientizar que tanta dor e sofrimento foi muito mais pelo medo do desconhecido, que qualquer outra coisa. Em algum tempo a insegurança se vai - volta a serenidade.
Fim dessa jornada. Agora, tudo é paz.
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texto: paulo moreira
crédito de imagem: twentieth century fox

terça-feira, 21 de abril de 2009

Baliza

Baliza morria de amor. Pelo Geraldo.
Pouco importava se ele era beberrão, jogador inveterado, homem de mil vícios e mil mulheres. O importante é que Geraldo gostava dela e, vez por outra, lhe fazia um carinho.
Dono da Fazenda da Serra, Geraldo negociava gado e vivia do trabalho sem horário, sem patrão e sem limites. Na cidade, era Juiz de Paz. Fazia casamentos, resolvia discórdias de todo tipo e, eventualmente, ia atrás de algum sujeito bom de conversa, para criar concórdias - com sua lábia ou revólver - sobre a livre e espontânea vontade de casar com a moça semi-virgem de família honrada.
Todo dia, Baliza o acompanhava a quase todos os lugares e junto dele sentia-se feliz por andarem descompromissados de tudo naquela pequena cidade, pouco ligando quando o cavalo, já escolado, parava em cada bar que pudesse existir. Escala para mais uma caninha, um cumprimento, uma dama de vinte minutos ou um tiro em mais um.
Paciente, ficava andando pela praça da igreja matriz, passeando faceira e olhando tristinha as pessoas da praça, com a resignação dos que passam os dias esperando por migalhas de amor; por um sorriso ou pela alegria de ver seu nome pronunciado rapidamente por ele. Humilde e tolerante, aguardava ansiosa a saída do Geraldo de cada lugar. Satisfeita com o simples fato de ficar próxima de quem tanto amava.
Baliza era assim. Baliza amava assim.
Nas noites de insônia na varanda, ficava olhando o semblante daquele homem, como que hipnotizada pela fascinação, procurando talvez, descobrir-lhe as inquietudes.
Quando Geraldo vestia o paletó de tecido grosso e punha seu chapéu Panamá, alegrava-se por saber ser o momento de saírem, exceto quando ele dizia ir jogar. Não ia junto nessas ocasiões, que não eram poucas. Ele chegava a ficar três dias e três noites seguidas jogando baralho e apostando dinheiro. Bom jogador, não costumava perder.
Nessas vezes, precisava ficar na casa da fazenda porque, no caso de aparecer algum comprador ou vendedor, era ela quem iria na fazenda do Chico Nego ou outra qualquer onde ficava a jogatina, para avisar e trazer de volta o seu querido. Bastava a Benedita dizer:
- Baliza, vá buscar o Geraldo que tem gente querendo falar com ele!
Pura alegria. Lá ia pela estrada, morrendo de felicidade por poder ajudar mais uma vez, o homem de sua dedicação de vida, a sua razão de viver.
Invariavelmente o encontrava já cheirando à destilado forte e perfume de alguma mulher de ocasião, porém, nunca bêbado. Geraldo parecia impermeável com bebidas. O máximo que acontecia era ficar mal humorado com a interrupção do jogo por Baliza e resmungar-lhe uns palavrões. Mas, só se estivesse perdendo muito no jogo. Se não, vinham alegres e brincando pelo caminho, pensando no bom negócio que esperava em casa.
Um dia, numa cerca de arame farpado, Geraldo machucou-se e contraiu tétano. Foram 40 dias naquela cama. Ironicamente, aquele homem forte de 33 anos, com caráter e temperamento únicos, ia sendo derrubado pelo que menos se podia esperar: a doença.
Durante todos esses dias, Baliza ficou ao seu lado. Abatida e muda, passava dias e noites com os olhos caídos como quem faz a oração do desespero. Pouco comia e mal conseguia tomar um pouco de água. Ao lado de quem tanto amava, sofria calada, sem protesto ou queixa.
No meio da sala, uma pessoa levantava o véu preto sobre o caixão. Era a única coisa que fazia com que levantasse os olhos, sentada alerta sobre aquele banco; protegendo, a seu modo, aquele que não mais de proteção precisava. Seguiu todo o cortejo ao lado do caixão.
Quando tudo terminou, todos voltaram às suas casas. Menos Baliza.
Deitada sobre o túmulo, ali ficou por horas, dias. E, por mais que tentassem, não conseguiam retirá-la de lá; convencê-la ou arrastá-la de volta ao lar. Nesse tempo, cada momento vivido deve ter passado por sua cabeça e, acredito, nem ela se sabia capaz ou o porquê de tanto amar.
Um certo dia o sol se pôs e alguém a encontrou já no fim de sua agonia. A fiel cadelinha morria sobre o túmulo de seu dono.
Baliza morria de amor. Pelo Geraldo.
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texto: paulo moreira
crédito de imagem: photoforum - rússia

domingo, 19 de abril de 2009

A bola que ressuscitou

Plena quinta-feira à noite, todos na porta da faculdade depois da prova de matemática e contabilidade. Alguns acadêmicos decidem ir para um point, jogar um snooker e tomar umas cervejas, porque ninguém é de ferro. Dessa reunião, colhemos algumas pérolas no decorrer da noite. Talvez isso sirva para que as mulheres conheçam um pouco melhor o universo masculino. Acreditamos que nem a TV Cultura produziria um documentário tão educativo e proveitoso para acadêmicos de Administração. Aqui vão alguns trechos de frases e conversas da noite que, a rigor, deveriam ficar registrados num portfólio:
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- pensei que a prova seria difícil...
- e não foi?
- não... estava impossível...
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- Passivo Circulante é um viadinho dando voltas no Lago, à procura de um namorado...
- Procurando um Ativo Divertido...
- É Diferido...
- Coisa nenhuma. É falta de vergonha mesmo!
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- Meu, você com esse cigarro largado na boca e mirando as bolas, está parecendo dono do jogo do bicho, chefe do tráfico no morro, uma coisa assim...
- Você acha mesmo? Estou tão bem assim?
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- Da próxima vez vamos fazer um churrasco na pracinha, em frente à facu.
- Mas, não é proibido fazer churrasco na praça?
- Ninguém pode proibir a gente de fazer churrasco. A carne é minha e a Praça é pública. Em frente a outra escola que estudei, eu fazia. Os que estavam lá dentro reclamavam da fumaça e do cheiro. Pararam de reclamar quando começamos a passar o churrasco pela janela... Até o diretor elogiou...
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- Paulão, não fica chateado. A gente tem que ser sonhador mesmo. Tudo o que existe, precisa ser sonhado antes...
- Sonho mesmo... quero o melhor e ninguém tem nada com isso! Para ter uma vida melhor, temos que sonhar e lutar. Como diria a Rita Lee: eles têm 3 carros, mas eu sei voar...
- Pô cara, que legal isso que você falou. ... Então voa! Amarra um lençol e vai fundo...
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- Prestenção cara, aquela que tá jogando agora naquela mesa, a bundinha empinadinha...
- Fazendo pose...
- Pose nada, é desse jeito mesmo.
- Uiaaaaaaaaa, é mesmo... Original de fábrica...
- Bão, né?
- Ajeitada...
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- Num gosto de gente que tem duas caras.
- Nem eu, principalmente quando as duas são feias...
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- Não fico preparando jogada, miro a bola e desço porrada...
- Então joga logo...
- TÁ VENDO MALUCO? É ASSIM QUE SE MATA UMA BOLA. UAUUUUUU
- Se você não tivesse matado a bola deles, teria sido muito bom mesmo...
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- Atende o celular!
- Merda, ela sempre me acha...
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- Tô admirado, cara... é muito grande... é redondona, é enorme... é...
- É uma overbunda!
- Mas, é ajeitada.
*
- Você já reparou que bunduda só anda em grupo?
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- Num falei que é mirar e dar porrada?
- Falou, mas precisa ajeitar a bola para a jogada seguinte...
- O que precisa é matar as bolas...
- Também precisa.
-...Num acredito, só faltava ela. Ela entrou na caçapa...
- É, mas saiu.
- A infeliz ressuscitou no terceiro dia!
*
- De quem é esse copo?
- Do bar...
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- MATEI! MATEI!
- Jogou no meio, bateu no bico e morreu no fundo. Assim qualquer um mata. Rabudo!
- Mas matei! Puxa vida, cara, num precisa falar desse jeito, tá me magoando... você tá acabando com a minha auto-estima.
- Pô, desculpa cara...
- Desculpa nada. Saí da frente que é pra eu fazer outra cagada dessas!
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- Precisava espairecer. Marvada TPM!
- TPM?
- Tô Puto Mesmo
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- Atende o celular.
- Merda, ela me achou novamente!
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- Não é possível! A bola ressuscitou de novo!
- Liga não, parceiro. Cê já matou todas as bolas imatáveis.
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- A gente precisa fazer isso sempre...
- Fazer o quê? Prova?
- Não... reunir o pessoal, distrair-se com os amigos
- Toda semana...
- Duas vezes por semana...
- Todo fim de semana...
- O Bar do Mussarelli já abriu as inscrições para matrícula?
*
- Tchau pra todo mundo. Vou pra casa levar um ralo da mulher agora. São quase duas da manhã.
- Não achou que os caras pesaram a mão na conta?
- Achei sim. Mas, valeu a pena, né?
- Valeu sim. Só uma coisa me deixou invocado...
- O quê?
- Aquela bola que ressuscitou... ressuscitou 3 vezes. Parecia mulher feia; quando eu batia mais firme e pensava que tinha ido... ela de novo...
*
- Atende o celular.
- Merda. Como é que ela me encontra tanto, heim?
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Este trabalho é a síntese significativa da aprendizagem adquirida no módulo O Direito de Tomar uma Skol Depois das Provas. É uma exigência do processo avaliativo dos amigos e tem como objetivo, exercitar os acadêmicos na capacidade de síntese e comunicação através de um bom jogo de snooker.
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texto: paulo moreira
crédito de imagem: olhares.com - portugal

quarta-feira, 15 de abril de 2009

Do meu jeito

Enquanto me entregava ao trabalho, ao amor e tudo à minha volta, fiz aquilo que julgava ser o melhor que alguém no mundo poderia fazer. Sempre tive a certeza disso, em cada entrega. Milhões de enganos. Algumas vezes acertei.
Por isso, não tenho dúvidas: sou e estou onde meus atos me levaram. Dos sucessos e dos fracassos, levo comigo o orgulho de saber que minha nau encontra-se no exato lugar para onde minhas mãos fizeram valer.
Não sei se é o melhor ou o pior lugar do mundo e jamais saberei. Só sei que é o meu lugar. Entre erros e acertos, tracei minha própria rota e estes caminhos só a mim pertencem. Criei-os como sabia, como podia, como era capaz em cada momento.
Do meu jeito.
texto: paulo moreira
imagem: paulo césar - olhares.com - portugal

segunda-feira, 13 de abril de 2009

sexta-feira, 10 de abril de 2009

Equívocos da Páscoa


- Papai, o que é Páscoa?
- Ora, Páscoa é... bem... é uma festa religiosa!
- Igual ao Natal?
- É parecido.. Só que no Natal comemora-se o nascimento de Jesus, e na Páscoa, se não me engano, comemora-se a sua ressurreição.
- Ressurreição?
- É, ressurreição. Marta, vem cá!
- Sim?
- Explica pra esse garoto o que é ressurreição pra eu poder ler o meu jornal.
- Bom meu filho, ressurreição é tornar a viver após ter morrido. Foi o que aconteceu com Jesus, três dias depois de ter sido crucificado. Ele ressuscitou e subiu aos céus. Entendeu?
- Mais ou menos... Mamãe, Jesus era um coelho?
- Que é isso menino? Não me fale uma bobagem dessas! Coelho! Jesus Cristo é o Papai do Céu! Nem parece que esse menino foi batizado! Jorge, esse menino não pode crescer desse jeito, sem ir numa missa pelo menos aos domingos. Até parece que não lhe demos uma educação cristã! Já pensou se ele solta uma besteira dessas na escola? Deus me perdoe! Amanhã mesmo vou matricular esse moleque no catecismo!
- Mamãe, mas o Papai do Céu não é Deus?
- É filho, Jesus e Deus são a mesma coisa. Você vai estudar isso no catecismo. É a Trindade. Deus é Pai, Filho e Espírito Santo.
- O Espírito Santo também é Deus?
- É sim.
- E Minas Gerais?
- Sacrilégio!!!
- É por isso que a Ilha da Trindade fica perto do Espírito Santo?
- Não é o Estado do Espírito Santo que compõe a Trindade, meu filho, é o Espírito Santo de Deus. É um negócio meio complicado, nem a mamãe entende direito. Mas se você perguntar no catecismo a professora explica tudinho!
- Bom, se Jesus não é um coelho, quem é o coelho da Páscoa?
- Eu sei lá! É uma tradição. É igual a Papai Noel, só que ao invés de presente ele traz ovinhos.
- Coelho bota ovo?
- Chega! Deixa eu ir fazer o almoço que eu ganho mais!
- Papai, não era melhor que fosse galinha da Páscoa?
- Era... era melhor, sim... ou então urubu.
- Papai, Jesus nasceu no dia 25 de dezembro, né?
- É.
- Que dia que ele morreu?
- Isso eu sei: na Sexta-feira Santa.
- Que dia e que mês?
- (???) Sabe que eu nunca pensei nisso? Eu só aprendi que ele morreu na Sexta-feira Santa e ressuscitou três dias depois, no Sábado de Aleluia.
- Um dia depois!
- Não, três dias depois.
- Então morreu na quarta-feira.
- Não, morreu na Sexta-feira Santa... ou terá sido na Quarta-feira de Cinzas? Ah, garoto, vê se não me confunde! Morreu na sexta mesmo e ressuscitou no sábado, três dias depois! Como? Pergunte à sua professora de catecismo!
- Papai, por que amarraram um monte de bonecos de pano lá na rua?
- É que hoje é Sábado de Aleluia, e o pessoal vai fazer a malhação do Judas. Judas foi o apóstolo que traiu Jesus.
- O Judas traiu Jesus no sábado?
- Claro que não! Se Jesus morreu na sexta!!!
- Então por que eles não malham o Judas no dia certo?
- Ui...
- Papai, qual era o sobrenome de Jesus?
- Cristo. Jesus Cristo.
- Só?
- Que eu saiba sim, por quê?
- Não sei não, mas tenho um palpite de que o nome dele era Jesus Cristo Coelho. Só assim esse negócio de coelho da Páscoa faz sentido, não acha?
- Ai Coitada!
- Coitada de quem?
- Da sua professora de catecismo!


Texto: Luis Fernando Veríssimo

quinta-feira, 9 de abril de 2009

Mergulho

crédito de imagem: inês direito - portugal

domingo, 5 de abril de 2009

Parate y Myra - Terapia para crises portfólio-depressivas

Se você conseguiu ouvir a música sem se mover... parabéns!!!!!!!! Nunca mais vai precisar se preocupar com portfólios, ou faculdade ou qualquer outra coisa. Não esqueça de nos relatar como é a vida no novo plano - dentro das normas da ABNT - claro!
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PS: Na pouco provável hipótese de ter ido pro paraíso, não esqueça: recomende-nos ao novo Reitor.
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imagem: antonio dimas/olhares .com

quinta-feira, 2 de abril de 2009

presença

Presença é o acordar pela manhã e buscar o abraço de uma lembrança no travesseiro. Um nome que insiste em ocupar nossos lençóis arrumados e já sem a noite dos que, loucamente, os desarrumaram tanto. Lençóis de manchas outras que, agora, não passam de pequenos círculos transparentes de lágrimas de uma estranha e até doce emoção.
Presença é sentir a brisa da manhã trazendo o calafrio inexplicável daquele medo bom do primeiro encontro. Olhar a xícara e ver entre sombras intraduzíveis da superfície do leite, o rosto de alguém te insinuando as mesmas promessas bobas. A paz daquele sorriso, com cappuccino e açúcar. É nosso querer bem criando cenas de rara beleza. O fantasma que se senta, sem nenhuma cerimônia, à nossa mesa.
É a angústia de sentir que, no vazio da ausência, ficou a marca. Isso é presença. Marca. A impossibilidade de parar com as mãos, essa sombra que o pensamento não consegue apagar.
Presença é um vírus contraído que nunca mais nos desacompanhará. São as nuvens brincando de criar a mesma silhueta no céu. Querer ver o filme outra vez e mais outra. Absurda luz na escuridão do quarto.
Ser obrigado a lembrar de tudo, pelo simples fato de ouvir um barulho na porta. A certeza de que, nesse mesmo instante alguém pensa em nós e lembra as mesmas coisas, ao mesmo tempo, com o coração também apertado pela saudade. E, caso tivesse coragem, contaría-nos esta mesma história.
A dor do saber que nunca mais - é presença.
Presença é querer dormir para ter a possibilidade de encontrar num sonho. Teimosia em inverter a realidade deserta. Ver o sofá da sala totalmente ocupado por ninguém.
Presença é ser capaz de nos preenchermos inteiros de quem já não está. É afrontar a dureza real de uma falta infinita que essa pessoa nos faz. É ler em pétalas de flores, os recados que só nós soubemos.
Alguém a quem tanto amamos é assim. Passe o tempo que passar, aconteça o que acontecer, estará longe ou perto, não importa.
Importa é que teremos - querendo ou não - sua incansável, suave e eterna presença.

texto: paulo moreira
imagem: internet