No primeiro e-mail, escreveu tudo o que queria dizer no espaço para “assunto”. Mensagem completa:
- Adorei, envie mais
Sorriso feliz; sensação de ter tocado alguém. Faço montagens e formatações de PPS, com alguns textos que escrevo e, uma das coisas mais gostosas, é receber algum e-mail pedindo mais.
Adicionei aos contatos e comecei a enviar novas mensagens. Novas respostas monossilábicas, sempre uma ou duas palavras no “assunto”. Ali, ela já definia tudo: a mensagem, o gostar, os votos de continue assim, os parabéns, etc. Me acostumei com o pouco que muito dizia.
Até que um dia, as palavras minguaram tanto que o e-mail veio sem uma única palavra no assunto, ou melhor, veio: “sem assunto” Procurei no corpo do e-mail – neca, nadica, coisninhuma.
- Puxa, ela enviou um silêncio dessa vez!
Ri muito da idéia. Detalhe que se esquece fácil, mas o pensamento começou a pipocar sem parar.
Teria sido alguma história que escrevi e que a deixou sem palavras? Mulher abstrata. Será que morri e, distraído como sempre, nem notei? Dizem que a gente morre e fica um tempão de cérebro anestesiado, achando que os que estão em volta estão meio doidinhos. Como quem tivesse cheirado uma carreirinha de pó de crematório. Deus me livre – idéia tonta.
Divertido com a brincadeira, continuei navegando e pensando cada possibilidade com a seriedade de um menino construindo uma pipa.
- Lógico! Quis dizer que a vida dela é uma coisa branca e sem graça. Meus PPS são os lápis de cor de sua existência. A tinta que pinta lindas paisagens e dá vida aos seus sonhos.
Muita pretensão. A chave, certamente está no branco. Branco transmite uma porção de coisas: Paz, esquecimento, pureza de noiva, susto, fígado e estômago ruim. Fígado não – amarelo é que lembra. Devo transmitir-lhe paz, é isso! Casar, acho que não. Quem está assustado não manda e-mail – disca 190. Fígado ruim, além da cor inadequada, só faria alguém enviar e-mail para o SUS. Já sei: amor. O amor é fisicamente branco. Isso porque, em Física, branco são todas as cores juntas. Ninguém discorda que o amor é policolorido. Particularmente, acho que deveria ser vermelho. Leiloca misteriosa!
Descobri pela remetência que o nome dela é Leiloca. Quem seria Leiloca?
Seria Leila, homem burro! Ninguém registra uma criança no cartório com nome de Leiloca. No ginásio fui apaixonado por uma Leila. Parecia uma princesa. Pele muito clara, branquinha... Longos cabelos negros, linda feito a lua e... era um pouquinho gaga. Quantas noites sonhei com seus beijos. Mais que isso, sonhava que ela me desse um beijo gago – daqueles que não conseguisse terminar nunca. Não ganhei o beijo gago, mas meu coração não sabia se batia ou não quando a via. Meu coração gaguejava por ela. Mas, estava falando da Leiloca de hoje. Real e palpável. Palpável sim, ela existe em algum lugar, de onde envia silêncios.
Uma garota adolescente encantada com minhas crônicas de amor? Fico imaginando um homem maduro como eu, acompanhando o evoluir de uma adolescente, sua vida, seus estudos. Estudante de odontologia tem orgulho e até dorme de branco. Pijama, calça, blusa, jalequinho, calcinha, sutiã. Um teclado de piano na boca - sem os bemóis, claro! (Bemol é a cárie do piano). Ou teria feito curso de auxiliar de enfermagem? Uma médica? E, se for uma professora de medicina aposentada, charmosíssima e delicada senhora no ápice de suas 80 juventudes?
Imagino ser uma linda mulher madura. Inteligente é. Linda também. Esperta. Cheia de curvas e pernas roliças. O pensamento avança:
- Rolando abraçados, numa cama com lençóis e fronhas de cetim branco. Olhares no fundo da alma de cada um. Oceano de paixão, carinho, ternura. Longos orgasmos implosivos e silenciosos. Daqueles que beira a morte ter que calar. O teto branco, girando, girando. Promessas de amor infinito. Tenho quase que absoluta incerteza que só pode ser isso.
De repente, um aperto no coração. Um medo enorme de molhar os lençóis de cetim desarrumados, em razão de um pensamento impossível. Em nossa vida, acontecem as coisas mais absurdas. Mas, por mais cruel ou absurda que seja uma idéia, deve ser considerada:
Ia enviar um e-mail para Patrício Carlos – seu atual namorado - terminando tudo. Começou pelo destinatário; sem querer clicou no Paulo que, por uma dessas ironias do alfabeto, vinha logo abaixo.
Na pressa - ao invés de deletar – clicou em enviar.
texto: paulo moreira
Imagem: photoforum.com
- Adorei, envie mais
Sorriso feliz; sensação de ter tocado alguém. Faço montagens e formatações de PPS, com alguns textos que escrevo e, uma das coisas mais gostosas, é receber algum e-mail pedindo mais.
Adicionei aos contatos e comecei a enviar novas mensagens. Novas respostas monossilábicas, sempre uma ou duas palavras no “assunto”. Ali, ela já definia tudo: a mensagem, o gostar, os votos de continue assim, os parabéns, etc. Me acostumei com o pouco que muito dizia.
Até que um dia, as palavras minguaram tanto que o e-mail veio sem uma única palavra no assunto, ou melhor, veio: “sem assunto” Procurei no corpo do e-mail – neca, nadica, coisninhuma.
- Puxa, ela enviou um silêncio dessa vez!
Ri muito da idéia. Detalhe que se esquece fácil, mas o pensamento começou a pipocar sem parar.
Teria sido alguma história que escrevi e que a deixou sem palavras? Mulher abstrata. Será que morri e, distraído como sempre, nem notei? Dizem que a gente morre e fica um tempão de cérebro anestesiado, achando que os que estão em volta estão meio doidinhos. Como quem tivesse cheirado uma carreirinha de pó de crematório. Deus me livre – idéia tonta.
Divertido com a brincadeira, continuei navegando e pensando cada possibilidade com a seriedade de um menino construindo uma pipa.
- Lógico! Quis dizer que a vida dela é uma coisa branca e sem graça. Meus PPS são os lápis de cor de sua existência. A tinta que pinta lindas paisagens e dá vida aos seus sonhos.
Muita pretensão. A chave, certamente está no branco. Branco transmite uma porção de coisas: Paz, esquecimento, pureza de noiva, susto, fígado e estômago ruim. Fígado não – amarelo é que lembra. Devo transmitir-lhe paz, é isso! Casar, acho que não. Quem está assustado não manda e-mail – disca 190. Fígado ruim, além da cor inadequada, só faria alguém enviar e-mail para o SUS. Já sei: amor. O amor é fisicamente branco. Isso porque, em Física, branco são todas as cores juntas. Ninguém discorda que o amor é policolorido. Particularmente, acho que deveria ser vermelho. Leiloca misteriosa!
Descobri pela remetência que o nome dela é Leiloca. Quem seria Leiloca?
Seria Leila, homem burro! Ninguém registra uma criança no cartório com nome de Leiloca. No ginásio fui apaixonado por uma Leila. Parecia uma princesa. Pele muito clara, branquinha... Longos cabelos negros, linda feito a lua e... era um pouquinho gaga. Quantas noites sonhei com seus beijos. Mais que isso, sonhava que ela me desse um beijo gago – daqueles que não conseguisse terminar nunca. Não ganhei o beijo gago, mas meu coração não sabia se batia ou não quando a via. Meu coração gaguejava por ela. Mas, estava falando da Leiloca de hoje. Real e palpável. Palpável sim, ela existe em algum lugar, de onde envia silêncios.
Uma garota adolescente encantada com minhas crônicas de amor? Fico imaginando um homem maduro como eu, acompanhando o evoluir de uma adolescente, sua vida, seus estudos. Estudante de odontologia tem orgulho e até dorme de branco. Pijama, calça, blusa, jalequinho, calcinha, sutiã. Um teclado de piano na boca - sem os bemóis, claro! (Bemol é a cárie do piano). Ou teria feito curso de auxiliar de enfermagem? Uma médica? E, se for uma professora de medicina aposentada, charmosíssima e delicada senhora no ápice de suas 80 juventudes?
Imagino ser uma linda mulher madura. Inteligente é. Linda também. Esperta. Cheia de curvas e pernas roliças. O pensamento avança:
- Rolando abraçados, numa cama com lençóis e fronhas de cetim branco. Olhares no fundo da alma de cada um. Oceano de paixão, carinho, ternura. Longos orgasmos implosivos e silenciosos. Daqueles que beira a morte ter que calar. O teto branco, girando, girando. Promessas de amor infinito. Tenho quase que absoluta incerteza que só pode ser isso.
De repente, um aperto no coração. Um medo enorme de molhar os lençóis de cetim desarrumados, em razão de um pensamento impossível. Em nossa vida, acontecem as coisas mais absurdas. Mas, por mais cruel ou absurda que seja uma idéia, deve ser considerada:
Ia enviar um e-mail para Patrício Carlos – seu atual namorado - terminando tudo. Começou pelo destinatário; sem querer clicou no Paulo que, por uma dessas ironias do alfabeto, vinha logo abaixo.
Na pressa - ao invés de deletar – clicou em enviar.
texto: paulo moreira
Imagem: photoforum.com